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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O livro do Caminho - 34º Capítulo: Remova a Consciência Corpórea e Perceba a Consciência Divina

O mundo está preenchido de Deus. Saturado de divindade, o mundo também é composto de karma ou ação. Karma é o poder da criação, o poder da vida; trata-se de um poder derivado diretamente de Deus. Você nasce como ser humano a fim de colher os frutos de suas ações passadas. Dessa maneira, ações conduzem ao renascimento e, em seguida, a mais ações; mantendo-o, portanto, preso ao ciclo de nascimentos e mortes. Você deve engajar-se ou abster-se de ações para se livrar desta escravidão? A Gita esclarece a resposta: o caminho da liberação é através do karma, através da ação. Mas a Gita impõe que você transforme todas as suas ações em karma yoga, a ação sagrada que irá levá-lo à união com Deus.

Encanações do Amor,

Quando o poder da vida se manifesta, este poder se torna um corpo. A vida, que usa todos estes vários corpos, também foi chamada de karma. A palavra sânscrita karmasignifica trabalho ou ação; no entanto, karma se refere não somente à própria ação, mas também ao ciclo de ação e reação entre o trabalho e seus frutos resultantes. Seu corpo é formado com base no karma, ou ações, que você executou num nascimento anterior. Você obtêm este corpo humano e esta vida a fim de gozar ou sofrer as conseqüências das ações em que você se engajou numa outra vida.

O corpo está diretamente ligado ao karma, ele não faz sentido algum fora do karma. Corpo significa karma e karma significa corpo. É através do corpo que todo tipo de ação concebível é executada. O lugar e o tempo em que estas ações ocorrem estão inseridos na natureza ou no mundo. Ao se tornarem sagradas, corretas, abnegadas, da mais elevada pureza e ao terem sido oferecidas a Deus; então, as ações se transformam em yoga; estas conduzem à união com Deus. Assim, você pode perceber que Deus, o homem e a natureza se unificam na ação.

Você Executa Ações a Fim de Santificar sua Vida

Tudo no mundo é o resultado do karma. Por essa razão, os antigos ensinamentos sábios declararam: 'Ofereça suas reverências ao karma.' O que quer que aconteça, trata-se da conseqüência de alguma ação prévia, ou seja, do resultado de um karma; e, sejam esses resultados bons ou maus, virtuosos ou malignos, todos os karmas, todas as ações são derivadas dos poderes de Deus. A manifestação pode ser diferente, mas, num sentido mais profundo, tudo vem de Deus. Essa é a razão pela qual um yogi, sem se importar se algo é favorável ou desfavorável, aceita tudo que lhe acontece como sendo a vontade do Senhor e considera o desempenho da ação correta como o seu principal dever.

A finalidade de executar todas as suas ações é santificar a sua vida. Somente com a graça de Deus, você obtém o privilégio de se engajar em ações corretas. É através dos ensinamentos do Senhor que você obtém esta oportunidade e direcionamento sagrados. Por essa razão, esta sagrada escritura é chamada Gita. Gita significa canção. É a canção do Senhor. Todos aqueles que escutam esta canção serão capazes de superar a tristeza e o pesar. Seja no campo de batalha ou em algum outro campo, onde quer que esta sagrada canção seja cantada, a aflição e o pesar serão dissipados.

Quando as ações são executadas como oferendas a Deus, estas se transformam em yoga. Isto é revelado na oração de um grande santo que cantou:

Ó amado Senhor! Tu és o atma, o meu próprio ser. Meu corpo é a Tua casa. Todos os meus deveres diários são minhas oferendas a Ti. Meu alento vital é louvor a Ti. Onde quer que eu ande, estou dando voltas ao redor de Ti. Qualquer palavra que eu expresse é um mantra de adoração a Ti. Cada karma executado é feito como uma adoração a Ti.

Este santo purificou cada ação executada por seus órgãos sensoriais e as ofereceu ao Senhor; desse modo, todas as ações dele se tornaram atos de adoração. Ao tornar suas ações sagradas, dignas de serem ofertadas a Deus, então, seus atos irão associá-lo a Deus; suas ações irão se tornar yoga. Você precisa reconhecer a grandiosidade inerente a tal yoga e lutar para purificar cada ato que executa e oferecê-lo ao Senhor. Na véspera da grande guerra, Krishna comandou Arjuna: "Arjuna, você deve lutar esta guerra. Mas, ao fazer isso, pense continuamente em Mim, torne cada ação pura e ofereça-a a Mim. Isso é o que Me satisfaz." Obedecendo aos comandos do Senhor, Arjuna lutou no campo de batalha para preservar a retidão, mantendo Krishna em sua mente de maneira firme.

Torne Todas as suas Ações um Sacrifício, Não Uma Batalha

Para alcançar seus objetivos espirituais, você necessita de obter o amor de Deus. De fato, para um devoto, satisfazer ao Senhor é o próprio objetivo. Isto se torna seu dever mais importante. Você deve ter a certeza de que cada ato executado irá satisfazer ao Senhor. Krishna ensinou: 'Obedeça Minhas ordens e execute seu dever.' Ao obedecer os mandamentos do Senhor e lutar na guerra, as ações de Arjuna se transformaram num sagrado yagna, um ritual de sacrifício que exalta a divindade e faz a pessoa imergir no fluxo da graça divina. Em contraste, num dos épicos, há a história de Daksha, que queria executar um yagna, um sacrifício ritualístico. Entretanto, ele desobedeceu e desrespeitou o Senhor Shiva e violou também os mandamentos dos santos sábios. Com um sentimento de egoísmo e apego, ele deu início ao sacrifício. O egoísmo dele converteu esse sacrifício numa guerra.

Você vê que, por Arjuna obedecer às ordens do Senhor e lutar na guerra, sua batalha se tornou um sacrifício sagrado. Mas, para Daksha, que executou seu sacrifício violando as ordens do Senhor, o sacrifício se transformou numa batalha. O quê é uma guerra e o quê é um sacrifício? Todas as ações puras, abnegadas e executadas como uma oferenda ao Senhor se transformam em sacrifício. Mas as ações que são empreendidas na violação do mandamento do Senhor, contrárias às escrituras, executadas com um sentimento de egoísmo e ostentação, executadas com o único propósito de fomentar desejos ou ódios...; todas estas ações se tornam uma guerra, mesmo que a natureza da ação possa ser a de um sacrifício. Quando a angústia e o ódio de uma pessoa se manifestam em palavras, e estas, por sua vez, levam a argumentos e contra-argumentos, então, uma batalha logo ocorrerá. A raiz de tudo isto é o apego e o desejo que surgem da identificação com o corpo.

Você é o Atma e Não Este Corpo

Krishna disse: "Arjuna, obedeça Meus comandos. Desista da consciência do corpo. Desista completamente. Pare de se identificar com seu corpo. O corpo está cheio de muco e sujeira. Você não é este corpo. O corpo é apenas temporário e transitório. Você é a testemunha, o morador interno, o atma dentro deste corpo. Esta carcaça de seis pés não é você. Você é a personalidade cósmica. Você é ilimitado. Este corpo está sujeito ao nascimento e à morte. Você, entretanto, é o atma sem nascimento e sem morte. Você não é um indivíduo limitado, sujeito à passagem do tempo. Você é a forma mais resplandecente que conquistou e dominou o próprio tempo. Discrimine entre o permanente e o impermanente! Inquira sobre a sabedoria e a ignorância! Distinga entre a verdade e a falsidade!"

Krishna continuou: "Arjuna, reconheça a sua verdadeira natureza! Censura e elogio se relacionam ao corpo e não são permanentes. O lucro e a perda também se relacionam ao corpo. Estes são resultados da atividade, do karma, mas não são características de sua essência, o atma. Seja indiferente a todos estes antagonismos. Trate a alegria e a tristeza de maneira igual. Somente ao desenvolver este tipo de equanimidade, você será capaz de realizar a verdadeira plenitude e se tornar um ser verdadeiramente sábio." Desta maneira, Krishna ensinou a Arjuna a sabedoria mais elevada, a discriminação entre a verdade e a falsidade, o reconhecimento daquilo que é permanente por trás de tudo que é impermanente.

Deus em Forma Humana Não se Limitada aos Avatares

Deus está em toda parte. Ele sabe tudo, Ele permeia tudo, Ele é todo-poderoso. Ele não é limitado pelo corpo. Seu poder não é limitado pelo karma executado através dos corpos. A divindade não é apenas um determinado corpo chamado de Rama, nascido numa determinada era; ou um outro corpo chamado de Krishna, nascido numa outra era. Essas encarnações serviram como modelos exemplares para a humanidade seguir. No entanto, o princípio da divindade não está restrito a um determinado corpo. A divindade é onipresente e onisciente.

Esta verdade foi ensinada repetidas vezes à humanidade. Krishna falou sobre isto a Arjuna. Ele disse: "Arjuna, há tempos remotos, muitas eras atrás, Eu ensinei esta Gita ao deus do Sol. Quando o deus do Sol passou a Gita a vários sábios notáveis daquele tempo, então, outros, numa longa sucessão de seres sagrados, vieram a saber da Gita. Mas, depois disso, lenta e gradualmente, este conhecimento tornou-se oculto e foi perdido por fim. Contudo, o que eu estou lhe ensinando aqui, hoje, é este mesmo sagrado conhecimento antigo."

Ao ouvir isto, várias dúvidas surgiram na mente de Arjuna. Ele começou a pensar: ‘O deus do Sol é uma entidade muito antiga. Krishna nasceu recentemente, nesta época atual. Como poderia Krishna ter ensinado ao deus do Sol que é tão antigo?’ Assim que Arjuna teve estes pensamentos, Krishna, que conhece todas as mentes e todos os corações, retrucou imediatamente: "Bem, Arjuna, Eu conheço suas dúvidas." Com um sorriso nos lábios, Ele continuou: "Perceba, Arjuna! Eu não sou este corpo em particular. Eu sou Aquele que não possui nascimento. Eu transcendo tempo e espaço. Eu não sou limitado por circunstâncias. Eu existo em todas as eras, a qualquer momento. Baseando suas concepções a Meu respeito em Meu corpo, você está pensando que Eu pertenço a esta era em particular. Mas todas estas idades e todas estas eras estão dentro de Mim. Não tente Me limitar a este corpo e a uma determinada época. Os corpos mudam, mas Eu nunca mudo. Eu assumo diferentes corpos, em diferentes épocas, a fim de executar karma e cumprir uma determinada missão." No momento em que Arjuna ouviu isto, sua compreensão espiritual alvoreceu e ele reconheceu o princípio eterno e imutável da divindade.

Expanda a Visão de Si Mesmo para Compreender a Divindade

A totalidade das pessoas não será capaz de compreender a onisciência de Deus. Mesmo pessoas de mente espiritualizada irão basear sua visão apenas nas ações externas e visíveis do Senhor, pensando nEle como uma entidade individual associada a uma determinada forma. Uma vez que se identificam com seus próprios corpos, do mesmo modo, as pessoas também identificam o Senhor com um determinado corpo. Elas especulam sobre o futuro desta encarnação divina em particular e falham em reconhecer a onipresença e a onisciência da divindade. Mas isto não é correto. Krishna ordenou a Arjuna: "Desenvolva uma mente ampla e expanda a sua visão. Você pode começar com o conceito de uma personalidade individual, mas não se prenda a isso. Não desperdice a sua vida inteira pensando somente em indivíduos.

"Do conceito de indivíduo, você deve passar ao conceito de sociedade; o qual transcende o individual. A individualidade e a personalidade estão associados a um nome e forma limitados, mas deixe a sua mente se elevar além do nome e da forma. Alcance e experimente esse princípio divino que é a sua própria essência. Você ainda está percebendo tudo sob a perspectiva dual e, assim, a sua vida está manifestando somente dualidade. Você é envolvido pelo nome e pela forma em sujeito e objeto. Faça o esforço de viajar da dualidade e ilusão à completa união com a divindade, mantendo constantemente esta sabedoria mais elevada do não-dualismo puro como o seu objetivo. Faça um esforço para perceber o mesmo princípio divino em toda parte e em tudo, até que você realize a verdade final de que o único atma, seu próprio ser, é real e que apenas ele existe."

Buddha ensinou essa mesma verdade grandiosa, embora não pudesse ter feito referência aos Vedas ou usado termos vedânticos. Não obstante, Ele experimentou e demonstrou o espírito essencial dos Vedas. Primeiro, Ele declarou: buddham sharanam gacchami, significando: 'Eu Me refugio no buddhi, Meu poder de discriminação.' Isto se relaciona ao indivíduo, fala da personalidade limitada. Gradualmente, Ele acrescentou: sangham sharanam gacchami, significando: 'Eu tomo refúgio na comunidade, Eu estendo Meu refúgio à família de seres de mentalidade espiritualizada.' Ele reconheceu que os sentimentos associados às considerações individuais e pessoais são egoístas, estreitos e não podem levar a pessoa muito longe.

Vá do Indivíduo à Sociedade e da Sociedade à Divindade

Você não deve considerar este ser individual como sendo tudo, trata-se apenas de uma gota no oceano. Nessa linha, Krishna também orientou: "Arjuna, expanda seu coração e torne sua mente ampla. Inclua toda a sociedade humana em seu escopo." A sociedade não tem uma forma particular, ela é composta de indivíduos. Quando um grande número de indivíduos se reúne, eles formam uma sociedade. Baba diz freqüentemente: "A expansão é Minha vida." Ao expandir a vida individual ao infinito, esta se transforma na divindade; isso quer dizer: permita que você, como um indivíduo, se multiplique e se expanda para perceber a divindade em tudo e você irá alcança-la. Portanto, Krishna disse a Arjuna: "Viva na sociedade, sirva à sociedade e desenvolva uma mente ampla. Reconheça a divindade como estando presente em toda parte, em todos."

A expansão do ser individual ao ser social não significa apenas colocar sua lealdade em um grupo, em parentes, numa região, numa comunidade ou num determinado país. Esta é a primeira etapa, mas você deve ir além disso. Assim, você ainda estará limitado e não irá percorrer todo o caminho que conduz à divindade, que é a sua própria verdade. Portanto, Buddha acrescentou mais um passo: dharmam sharanam gacchami, significando: 'Eu Me refugio no dharma, Eu Me abrigo na verdade e na retidão.'

Dharma, como usado aqui, possui uma conotação muito ampla; refere-se Àquele que sustenta o mundo inteiro. Ao investigar o significado usual da palavra dharma, você descobre que este significado se relaciona à natureza básica, à verdade essencial de determinada coisa. Refere-se ao atma imortal, à divindade interior. Portanto, o significado mais profundo do dharma – que é a divindade – é encontrado na natureza verdadeira de tudo. Refugiar-se no dharma é tornar-se um com todos os atributos da divindade. É dito que maya, ou ilusão, é o corpo de Deus; mas é mais correto dizer que o dharma é o corpo de Deus. Trata-se da própria forma dEle. Por isso, Krishna anunciou: "Para estabelecer o dharma, Eu venho repetidas vezes." O dharma revela a natureza vasta da divindade em todos os seus aspectos gloriosos.

Krishna instruiu Arjuna: "Mova-se além deste limitado sentimento de individualidade. Não mantenha este corpo como sendo a única base de sua vida. O corpo é somente uma cobertura, um instrumento. Trata-se daquilo que você percebe através de seus olhos mortais. Amplie sua visão. Desenvolva sua visão interna. Obtenha a visão de Deus. Quando sua visão for preenchida com Deus, então, a criação inteira irá se tornar Deus para você. Faça do dharma a sua visão e sua visão irá se tornar a visão de Deus; então, você verá a criação inteira como sendo Deus."

Krishna continuou elucidando os meios corretos para praticar o dharma: "Como um indivíduo, você é um príncipe pertencente à classe dos guerreiros. Lutar para proteger a retidão e se preparar para a batalha é seu dever, seu dharma. Não seria correto você sair e incitar uma guerra, mas, neste caso, seus perversos primos declararam guerra contra você. Minha orientação é que você honre seu dever e, ao executar seu dever, lembre-se de Mim e siga Minhas ordens. Dessa forma, todas as suas ações irão se tornar repletas de dharma."

A Natureza do Dharma

Ao instruir Arjuna, Krishna revelou a forma essencial do dharma. "Arjuna, queimar é da própria natureza do fogo; sem o poder de queimar, não se trata de fogo. Da mesma forma, o gelo tem a natureza de resfriar. Se não resfriar, você não pode considerar que seja gelo. E a doçura é própria da natureza do açúcar. Se a doçura não estiver presente, a substância pode parecer açúcar, entretanto, pode ser sal ou farinha, mas não açúcar. Exatamente da mesma maneira, a morte é natural para cada corpo humano. Quando o corpo humano se move rumo a seu fim natural, por que alguém deveria se afligir?

"Assim como queimar é natural ao fogo, resfriar é natural ao gelo e adoçar é natural ao açúcar; do mesmo modo, a morte é natural para cada corpo humano. Sem se preocupar a respeito dos corpos de seus parentes, lute esta guerra; mas faça isso mantendo em mente os atributos de um ser verdadeiramente sábio. Se deseja obter paz, então você deve destruir seu ego e seus apegos. E você também deve desistir de suas ilusões. Mas não desista de Deus! Ele está dentro de você. Trata-se da própria fonte de seu ser. Sintonize com Ele e obedeça todos os comandos dEle, e você irá reconhecer a verdadeira natureza da humanidade."

Dharma, a qualidade divina que é natural e inerente ao homem, irá, por si mesmo, destruir maya – a ilusão do mundo, da individualidade e da separação. Previamente, foi mencionado que nas letras da palavra man, onde se supõe que man signifique o verdadeiro ser humano, não importando o sexo, a letra m significa: 'maya removido'; a letra a: 'atma visível'; e a letra n: 'nirvana alcançado'. Ou seja, remova o ego, tenha a visão do Senhor interno e se funda com a alegria de seu divino ser imortal, o atma. É isto que compõe o dharma; este é o dever essencial do homem. Repetidamente, várias vezes, vocês devem contemplar isto.

A Paz Só Pode Ser Encontrada Dentro Si Mesmo

A paz não é algo disponível no mercado. Não é algo que possa ser comprado e obtido junto com um reino. Não se trata de um presente que possa lhe ser dado por seus parentes. A paz é inerente a sua própria natureza; ela está dentro de você. Somente ao buscá-la dentro de si mesmo, você será capaz de encontrá-la. Portanto, livre-se de sua visão externa e desenvolva a visão interna. A visão externa é adequada para um animal, não para um ser humano. O verdadeiro ser humano possui a visão interna. "Assim," Krishna ordenou a Arjuna, "santifique sua vida desenvolvendo este potencial único que os seres humanos possuem que é voltar a mente para o interior."

Foi contada a história de como, no começo da carreira do sábio Narada, ele mantinha continuamente um tipo de preocupação após a outra. Nessa época, Narada tinha aprendido algumas coisas. Ele era um mestre em todos os 64 tipos de saber e tinha praticado todas as 64 habilidades humanas; no entanto, ele não sentia paz interna alguma. Ele começou a pensar consigo: 'Qual é a razão de toda esta preocupação, esta falta de paz que estou sentindo? Eu dominei todos os tipos de saber, eu compreendo todos os campos do conhecimento humano; ainda assim, eu não pude remover o meu pesar.' Ele foi a um grande sábio e pediu-lhe para que explicar o motivo de suas preocupações e falta de paz.

A primeira coisa que o sábio perguntou a Narada foi: "Quais são as suas qualificações?" Narada respondeu: "Eu aprendi e dominei cada área do saber; não há campo algum do conhecimento humano que eu não tenha aprendido." O sábio então disse: "Bem, isto é muito bom. Então, você deve ter aprendido sobre o conhecimento do ser?" Narada respondeu: "Não, à exceção do conhecimento do ser, eu tive todos os tipos de instrução." O sábio disse a Narada: "Você pode obter a paz mental somente através do conhecimento do atma. Somente ao aprender sobre esse conhecimento supremo, por meio do qual tudo mais será conhecido, você poderá ser considerado uma pessoa educada. Caso contrário, você permanece ignorante, não importando quantos campos do saber você tenha dominado. Qual é a utilidade de aprender tantas coisas assim sem compreender a única coisa que é verdadeiramente essencial?" Aqui está um pequeno exemplo.

Deve Haver um Marido para Haver Casamento

Numa pequena vila, ia haver um casamento. A senhora da casa onde o casamento ia ser celebrado disse a senhora da casa vizinha: "Cara amiga, nós estamos planejando comemorar um casamento em nossa casa de uma maneira grandiosa. Nós convidamos uma famosa banda de Bombaim. Nós também convidamos vários cantores notáveis. Diversos cozinheiros altamente qualificados virão preparar o alimento para a ocasião. Nós estamos planejando armar uma grande tenda para realizar o casamento. Será, na verdade, um grande acontecimento. Por favor, compareça. Você apreciará imensamente esta união. Será uma celebração original." Após ter ouvido todas estas coisas, a senhora vizinha disse: "Ó, que maravilha! Eu certamente irei." Então, ela perguntou: "Por favor, diga-me: quem é o noivo?" Nesta hora, a senhora respondeu: "Bem, isso ainda não foi decidido."

Num casamento, o noivo é uma pessoa muito importante. Se o noivo não for selecionado, quem irá se casar na tenda da cerimônia? De que vale uma boa banda, bons cozinheiros, cantores e padres quando não há alguém para se casar? Primeiro, o noivo deve ser escolhido; depois, todos os demais preparativos passam a ter valor. Da mesma maneira, se não houver paz na mente, qual é a utilidade de ter aprendido tantas coisas assim? O grande sábio disse a Narada: "Somente adquirindo o conhecimento do atma, você pode obter paz mental."

O homem de hoje é uma presa fácil para o apego e o ódio. Ele é subjugado pela natureza possessiva e está cheio de ego. Apenas perceba o estado em que ele se encontra e veja o que ele está fazendo! Ele considera a si mesmo o ser mais importante do mundo. Ele se ilude com o sentimento de que não há ser algum mais importante do que ele. Devido a esta ilusão, ele perdeu o poder de discriminação e, assim, ele não tem sido capaz de refletir sobre seu próprio estado confuso. Ele considera que é ele quem está fazendo tudo. Ele pensa que pode dominar o mundo inteiro e fazer com este o que desejar. Mas não é ele quem está controlando o mundo. Ele não possui esse poder, nem para o bem nem para o mal. Aquele que é o criador deste mundo, Aquele que é o protetor deste mundo, Aquele que é o pai deste mundo, Aquele que é a mãe deste mundo, Aquele que é o Senhor deste mundo; somente Ele tem o poder e a autoridade para controlá-lo. Para todo este mundo, considerando o móvel e o inerte, há somente um Senhor. Esta é uma importante verdade que todo ser humano deve reconhecer.

Trate as Dificuldades Encontradas como Oportunidades e Testes

Não dê lugar a excitações passageiras e a raiva temporária, perdendo, desse modo, a sua paz mental. O pesar, a perda, a dor, as preocupações, todos são testes para auxiliá-lo a se livrar de suas fraquezas. Eles revelam se você desenvolveu, ou não, a fé firme e a paciência para suportar as dificuldades sem ser afetado. Não há qualquer utilidade em meramente passar nos exames conduzidos por instituições educacionais. Você deve passar nos exames apresentados a você pela própria vida. Foi dito: 'Mesmo após ter adquirido todos os tipos de educação, trata-se apenas de um tolo aquele que não conhece a sua própria mente.' Seja qual for o aprendizado que se tenha adquirido, uma pessoa medíocre não obterá quaisquer boas qualidades deste. Então, qual é a utilidade de toda essa educação? Após adquirir muitos conhecimentos inúteis, a pessoa conquistou apenas a faculdade de se engajar em argumentos e contra-argumentos.

Por que estudar tantas coisas sem valor algum? Ao invés disso, faça todo o esforço para aprender sobre aquilo que não morre; essa é a educação que possui valor durável. Qual é o conhecimento que lhe permite conhecer aquilo que não morre? É o conhecimento do atma, e a educação relacionada a este conhecimento é a educação átmica. Aquele que não possui morte tampouco possui nascimento. Tudo que nasce, tudo que veio a existir, sofre modificações e eventualmente morrerá, perdendo, desse modo, a sua forma. O mundo inteiro e tudo que há nele possuem uma determinada forma. Por terem forma, irão sofrer mudança. Você deve tentar alcançar o estado onde não há mudança alguma. Para isso, você deve obter o auto-conhecimento; você deve realizar o atma.

Não Há Necessidade de Carregar a Bagagem em sua Cabeça

Houve, certa vez, um velho e ignorante aldeão que deixou sua terra natal e embarcou numa longa viagem. Ele nunca tinha viajado de trem antes; de fato, em toda a sua vida, ele nunca tinha tido a chance de ver um trem. Agora, ele tinha ido à estação ferroviária e estava esperando o trem chegar. Um trem com muitos vagões chegou à estação. O aldeão estava completamente apavorado com este trem. Ele pensou consigo: 'Ele tem tantos vagões! E anda tão rápido! Olha como ele facilmente se equilibra naqueles trilhos estreitos onde um ser humano mal pode sequer andar.'

Centenas de passageiros estavam esperando para embarcar no trem. A quantidade de bagagem que a maioria destes passageiros trazia era muito grande. O aldeão sentou preocupado, pensando consigo: 'Como este trem vai ser capaz de carregar tantos passageiros e tanta bagagem? Por que essas pessoas têm tanta bagagem assim?' Junto com os demais, o aldeão entrou no trem. Colocando as bagagens no compartimento apropriado, em cima, ou deixando-as no chão, os passageiros tomaram seus assentos e começaram a conversar e a relaxar.

O aldeão pensou consigo: 'Quão cruéis todas estas pessoas são! Por que estão dando tanto trabalho a este pobre trem jogando a bagagem no compartimento e relaxando?' Assim, este velho homem se sentou mantendo toda a sua bagagem sobre a cabeça. Já era o bastante que o trem o estivesse carregando, o mínimo que poderia fazer era carregar a sua própria bagagem e não colocar nenhum fardo adicional neste trem tão carregado! Um outro passageiro perguntou a ele: "Senhor, por que está carregando a sua bagagem na cabeça? Por que não colocá-la de lado e ficar confortável?" O velho homem respondeu: "Quando o trem já está carregando tanta bagagem, eu não quero acrescentar também a minha própria bagagem. Assim, eu a coloco sobre minha cabeça e a carrego eu mesmo."

O que quer que faça com a sua bagagem, o trem ainda estará carregando ambos: você e a sua bagagem. Mantendo a bagagem em sua cabeça, você não estará ajudando ao trem de maneira alguma. Assim, você deve, com isso, colocá-la à parte e apreciar a viagem. Bem, este velho e ingênuo homem teve bondade e compaixão; mas não teve muita inteligência e discriminação.

Krishna disse a Arjuna: "Embora seja altamente educado, embora tenha controle sobre os sentidos, embora tenha realizado grandes feitos e desenvolvido muitas habilidades; não obstante, você está experimentando muitas dificuldades. Isto é porque você não pôde compreender a divindade. Enquanto não compreender a divindade, você não poderá se livrar do pesar. Se quiser se livrar do pesar e obter a graça do Senhor, você deve obedecer Minhas ordens.

"Primeiro de tudo: lembre-se de que você não é o corpo. Estes órgãos sensoriais não têm ligação alguma com você, eles são associados ao corpo. Use o corpo para trabalhar, mas não se identifique com o corpo ou com o trabalho. Você nasceu neste corpo como resultado de suas ações passadas, de seu karma, e você deve usar este corpo para executar karma. Assim, levante-se! Erga-se, Arjuna! Cumpra seu dever. Execute ações e as ofereça, todas, a Mim. Deixe-Me ter as conseqüências de suas ações. Afaste-se do egoísmo! Preserve a justiça! Firme-se na fé! Esse é o dharma de era em era. Se obedecer Meus comandos, Eu cuidarei de você."

Identifique-se com a Divindade, Não com o Corpo

Krishna continuou: "Eu quero lhe dizer uma outra coisa: o pai cego destes seus primos perversos teve 100 filhos; contudo, no fim, não sobrou um deles sequer para executar ritos funerários do pai. Qual é a razão disto? Todas estas crianças eram filhos de Deus, mas o rei cego considerou-os como sendo seus. Arjuna, você também está se transformando num irmão para ele. Você se ilude com a idéia de que este corpo é seu quando, na verdade, não é. Pensando ser o corpo, você está desenvolvendo a mesma perspectiva cega. Isso é completa ignorância. A menos que disperse esta ignorância, você não será capaz de perceber a sabedoria. Você tem que desenvolver a discriminação e o autoquestionamento para que a sabedoria entre em você.

"Dentro de seu corpo está o coração espiritual e, dentro desse coração, Deus. A alma individual também está em seu corpo. Esses dois, Deus e a alma individual, parecendo viver separadamente dentro do corpo, estão atuando juntos, desempenhando seus papéis num grande drama. Eles se unem e se separam novamente, como dirigido pelo autor que escreveu esta peça. Ele atribui todos os distintos papéis, do bem e do mal, da virtude e do pecado. Mas, na verdade, há apenas a única divindade que atua em todos os papéis.

"Do ponto de vista do corpo, há a alma individual manifestada numa determinada pessoa com corpo e mente; e há Deus, que é o morador interno do coração. Enquanto você possui a ilusão do corpo, estes dois – Deus e a alma – permanecem como entidades separadas que desfrutam o ato de contracenarem juntas. Tão logo a ilusão desapareça, elas se fundem no único princípio divino que a tudo permeia. Ao remover a ilusão da consciência do corpo, você promove a união entre o indivíduo e Deus. Então, você se estabelece em sua consciência divina e desfruta a eterna bem-aventurança."

Ensinando assim, Krishna foi capaz de transmitir a Arjuna o conhecimento para torná-lo um ser sábio e proporcionou os meios para que ele alcançasse a bem-aventurança da não-dualidade. Ele disse: "Arjuna, tenha sempre o sentimento de que tudo o que existe é a única e mesma entidade. Não permita que os sentidos o afastem deste sentimento de unidade e equanimidade. Deixe seu coração livre do pesar e da exaltação, do apego e do ódio. Não seja afetado pela censura ou pelo elogio. Trate todas as pessoas igualmente."

Krishna disse a Arjuna: "Ao acreditar firmemente que tudo nesta criação é uma manifestação da divindade, então, você irá se estabelecer na sabedoria e ficará livre da ilusão. Você terá realizado, então, o verdadeiro propósito para o qual você nasceu como um ser humano. Arjuna! Execute Meus comandos! Veja-Me em todos os lugares! Conheça a Mim como sendo o seu próprio ser, o atma! Realize o atma e seja, para sempre, livre!"

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