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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O livro do Caminho - 32º Capítulo: A Yoga da Ação – Abandonando os Frutos

Krishna disse a Arjuna repetidas vezes: "Arjuna, cumpra seu dever! Engaje-se na ação correta, mas não aspire ao fruto de sua ação." A intenção de Krishna era transformar todas as ações de Arjuna em ações sagradas, em karma yoga; e, assim, ajudá-lo a alcançar o objetivo espiritual.

Encarnações do Amor,

No mundo, todas as ações são executadas para obter recompensas ou algo que possa ser chamado de fruto. Se não houvesse fruto resultante de suas ações, se estas não fossem compensadas ou pagas de uma forma ou de outra, a grande maioria dos seres humanos não empreenderia trabalho algum. Qual é a objeção de Krishna pelo fato de Arjuna aspirar ao fruto de seu trabalho? Quando quase todos executam ações em virtude de uma recompensa, qual é o significado mais profundo de Krishna mandar Arjuna executar todas as ações dele sem esperar qualquer recompensa? O único interesse de Krishna era cuidar para que todas as ações de Arjuna fossem transformadas em yoga, ou seja, que a vontade de Arjuna estivesse de acordo com a vontade divina. Isto aconteceria quando Arjuna se rendesse totalmente à divindade, oferecesse todas as ações ao divino e desistisse de todos os apegos aos resultados. Então, o karma dele iria se transformar em karma yoga.

Transforme Todas as Suas Ações Em Ações Sagradas e se Liberte

Enquanto você age com a consciência corpórea, isto é, enquanto você se identifica como o agente de uma ação; então, essa ação não pode ser karma yoga. Qualquer ação executada com o sentimento de ego – com o sentimento de "eu fiz" ou com o sentimento de apego ao fato de que esta é a "minha ação" – pode apenas lhe trazer tristeza no final. Tais ações resultarão sempre numa escravidão futura. Entretanto, ao transformar suas ações em yoga, você se torna livre de escravidão. Como a ação, ou karma, se transforma em yoga? Todas as ações executadas como oferendas à divindade, sem qualquer sentimento de ação individual e sem buscar quaisquer resultados pessoais serão transformadas em yoga.

Vários problemas surgem quando se age com um sentimento de egoísmo. Internamente, você pôde sentir: 'Esta ação foi executada por mim; assim, eu devo obter os benefícios desta ação. Eu trabalhei; desse modo, eu mereço ser recompensado. Certamente, eu tenho direito às recompensas que resultam destas ações que eu executei.' Tais sentimentos servem apenas para fortalecer ainda mais a sensação de ego, o sentimento de "eu e meu". Enquanto este sentimento de "eu e meu" continuar aumentando, o atma vai ficando mais e mais obscuro e a alegria que emerge do atma vai diminuindo. Para destruir completamente o egoísmo de Arjuna, Krishna pediu que ele transformasse todas as ações dele em yoga.

Qual é o método para transformar a sua ação em yoga? Você deve se tornar impessoal – você não deve se identificar com as ações ou com os frutos que delas resultam; mas, ao invés disso, você deve se concentrar inteiramente na própria ação, permanecendo indiferente aos resultados. Ou seja, oferecendo todos os seus esforços à divindade interior e permanecendo totalmente despreocupado e desinteressado pelo fruto, você age porque agir é de sua natureza. Com tal sentimento de desapego, qualquer tarefa em que você se engaje irá se tornar sagrada.

Há o exemplo do rei Janaka que mostrou por meio de sua vida que, se você executar ações sem qualquer desejo pelo resultado e sem qualquer interesse pessoal na ação, então, suas realizações podem, de fato, se tornar grandiosas. Enquanto governava um reino e suportava todas as responsabilidades associadas a este, o rei Janaka executava todos os seus atos com a atitude que ele era apenas uma testemunha. Por agir sem qualquer apego aos resultados, Janaka se tornou um rei sagrado; um monarca que também era um yogi.

Transforme Ações em Yoga

Toda ação oferecida ao Senhor e executada sem qualquer interesse pessoal transforma-se num sagrado sacrifício e pode ser considerada yoga. Mas, quando uma ação é executada com um interesse pessoal na atividade e em seus resultados, então ela não é nada além de roga, que em sânscrito significa doença. A principal causa de toda esta doença é o apego. Do apego, surgem o ódio e a raiva. Estes são os demônios que irão esconder todas as suas qualidades humanas.

Acontece o mesmo com todos: uma vez que o apego e o ódio começam a se revelar em você, eles incentivam todas as tendências demoníacas e você se esquece de sua verdadeira natureza humana. Portanto, Krishna comandou Arjuna: "Execute as suas ações livre de qualquer apego. Seja impessoal. Ao executar ações sem ter qualquer interesse pessoal, o fruto destas ações não irá tocá-lo. É assim que Eu governo todos os três mundos. Não pode você governar um pequeno corpo desta maneira?

"Desenvolva firme fé no fato de que, ao permanecer desinteressado pelas recompensas, você será capaz efetuar muitas tarefas grandiosas. Mas, ao ter apego aos resultados de uma tarefa, você estará sujeito à frustração. Se obtiver os frutos esperados, você ficará alegre. Se você não tiver sucesso, ficará preocupado. Tente controlar este sentimento de depressão e de exaltação. Torne-se verdadeiramente sábio. Não se permita ficar sujeito a estes sentimentos oscilantes de exaltação e de depressão."

Não há um ser humano que não esteja engajado em ações. Cada pessoa possui um corpo humano com a explícita finalidade de executar ações. Para santificar o corpo, você deve executar apenas boas ações. Para cada ação, haverá um fruto. Você deve perceber que a alegria que você obtém ao executar uma ação é muito maior do que a alegria que você obtém do fruto da ação.

Por exemplo, num auspicioso festival religioso, uma família pode escolher se reunir durante toda a noite com outros devotos, parentes e amigos para cantar canções devocionais. Enquanto estiverem engajados nas práticas e envolvidos nas cerimônias, eles não percebem qualquer sentimento de fadiga. Mesmo se alguns deles estivessem com febre, eles não se importariam; eles estariam completamente absorvidos na cerimônia. Durante esse período, imersos em suas práticas, ninguém se sente cansado. No entanto, ao visitar esta família logo depois da festividade, você os encontra com a aparência bastante cansada.

A Alegria de Fazer é Maior do que a Alegria das Recompensas

Você obtém prazer ao executar uma ação, mas não experimenta prazer na mesma medida depois que a ação é concluída. Você simplesmente se ilude com o sentimento de que há algum prazer no resultado da ação. Mas, na verdade, não há qualquer prazer que seja no fruto. O prazer que você acredita obter do fruto é apenas um reflexo, uma sombra do prazer real. Trata-se apenas de uma alegria fantasma. Esta não é a alegria permanente que você está procurando. Quando as próprias ações são temporárias e transitórias, como os frutos resultantes podem ser algo além de ligeiras sombras?

Talvez você sinta que executando atos de caridade, fazendo o bem, envolvendo-se em boas causas, participando de eventos auspiciosos ou se engajando em vários atos de sacrifício pessoal; você obterá recompensas celestiais. Entretanto, Krishna declarou que o paraíso é apenas temporário. Ele disse: "Arjuna, há algo muito superior ao paraíso. Naturalmente, você deve sempre fazer o bem. Eu não estou dizendo que você deva parar de executar boas ações, sacrifícios, austeridades, rituais religiosos e atos desse tipo. Continuar com essas boas ações não é apenas seu direito, mas seu dever; contudo, faça tudo tendo apenas o bem-estar do mundo inteiro em mente. Não aja com um motivo egoísta. Execute cada ação abnegadamente, desinteressadamente, preocupado somente com a paz, o bem-estar e a prosperidade de todos os seres vivos em toda parte.

"Não se preocupe em alcançar o paraíso. Coloque sua visão num objetivo muito mais elevado, além do paraíso. O paraíso irá durar somente enquanto os méritos de suas ações durarem. Uma vez que estes méritos se esgotem, você terá que voltar à Terra. Portanto, desista de aspirar ao paraíso, que é temporário e impermanente. Cultive a proximidade e o afeto ao Senhor. Funda-se nEle, isso é o que realmente importa. O princípio da divindade é superior ao paraíso. Quando compreender o segredo da ação e executar todas as suas ações com a perspectiva adequada, você poderá alcançar a própria divindade."

A Gita Traz a Sabedoria Mais Elevada Para a Vida Diária

A Gita não pediu que você renunciasse a todas as suas atividades mundanas e se tornasse um sanyasin, um mendicante errante. Algumas pessoas tem a impressão de que a Gita não deve ser ensinada às crianças, pois os jovens poderiam ter a noção de renunciar ao mundo e ir à floresta. Muitas pessoas sofrem dessas impressões erradas. Mas considere o grande número de pessoas que tem ensinado a Gita. Essas pessoas são todas sanyasins? Elas renunciaram a todas as coisas do mundo? Arjuna, que ouviu a Gita diretamente de Krishna, tornou-se um sanyasin?

O significado interno da Gita deve ser compreendido no contexto do modo como a natureza humana se expressa no mundo, nas atividades diárias das pessoas. O objetivo mais importante da Gita é fazer descer a inestimável sabedoria antiga ao nível mundano e elevar a vida mundana ao nível da mais elevada sabedoria. A Gita faz descer o Vedanta na vida diária e eleva a vida diária ao nível de Vedanta; ela não apenas introduz filosofia e espiritualidade na vida diária, mas também introduz a vida diária na filosofia e na espiritualidade. Conseqüentemente, ela reconcilia espiritualidade e vida diária.

A existência humana não envolve apenas atividades mundanas do dia a dia, ela não é apenas para se obter um meio de vida. A Gita ensina a santidade da vida humana e dirige o homem a seu objetivo final. Ela ensina ao homem como obter um meio de vida no mundo de uma forma que o permita transcender a condição humana e de uma forma que não o vincule a posteriores nascimentos humanos. Você não estará vinculado a suas ações quando estas forem executadas abnegadamente, sem qualquer interesse pelos frutos. A Gita o ensina a desenvolver o desapego por todas as suas atividades, deveres e posses. Ao possuir esta atitude de desapego, o que ocorre realmente é que as suas ações se tornam sagradas. A Gita não o incentiva a renunciar ao trabalho; pelo contrário, ela o incentiva a cumprir seu dever e executar todas as atividades apropriadas a seu status na vida. Mas você deve transformar todas estas ações em trabalhos sagrados oferecendo-os ao Senhor.

Por exemplo, considere o trabalho de um cozinheiro. Os cozinheiros executam seus deveres corretamente e trabalham bem quando mantêm a mente no ato de cozinhar. Se, ao invés disso, eles fizerem tudo mantendo apenas o salário em vista; então eles não terão muito interesse no trabalho e a comida não será boa. O ato de cozinhar deve ser executado com um sentimento de amor, com dedicação ao trabalho e com o bem-estar de todos em mente, sem interesse pelas recompensas monetárias. Então, cozinhar se torna um serviço sagrado e puro que alimenta e santifica.

Da mesma maneira, quando você executa seus deveres prescritos, quaisquer que sejam, com total concentração no trabalho, oferecendo-os à divindade e sem qualquer interesse pessoal no fruto; então suas ações se tornam sagradas e grandiosas. Com este sentimento de desinteresse pelos resultados, seu trabalho se torna imperturbável e você também irá progredir firmemente em direção a seu objetivo. Mas, quando você tem um interesse pessoal no trabalho que está executando, haverá altos e baixos, a inconstância irá se desenvolver e seus desejos rapidamente crescerão.

Krishna citou o rei Janaka como uma pessoa ideal porque ele governou seu reino com este sentimento de desapego e, desse modo, atingiu a perfeição. Há algumas pessoas que possuem apenas a visão externa. Há outras que desenvolveram a visão interna. A visão externa vê somente o ilusório mundo exterior. A visão interna transforma a mente e preenche o coração com sentimentos sagrados. Para obter a visão interna, você deve desenvolver esta qualidade de se concentrar no trabalho e de se desapegar dos resultados, oferecendo todas as ações à divindade interior. Há uma história para ilustrar o grande poder espiritual desta elevada prática.

Janaka e Suka

Certa vez, na era precedente a de Krishna e Arjuna, o jovem sábio Suka entrou no reino do rei Janaka e estava andando pelos arredores da capital. O rei Janaka ouviu que Suka estava na vizinhança, mas desconhecia o lugar onde Suka escolheu fazer seu acampamento. O rei enviou mensageiros em todas as direções para obter notícias sobre o paradeiro de Suka. Eles encontraram Suka vivendo num abrigo localizado numa floresta perto da capital. Janaka, com seus ministros, foi visitar Suka. Janaka não foi lá como um rei ou governante. Ele foi como um servo do Senhor. Janaka já havia removido, há muito tempo, todos os traços de ego e, dessa vez, ele foi como um humilde buscador espiritual. Suka estava pronunciando um discurso espiritual a seus discípulos.

Durante este discurso, Janaka permaneceu e escutou com total concentração. A noite veio. Antes de sair, Janaka foi a Suka e perguntou: "Swami, eu posso vir todos os dias e experienciar seus inspirados discursos?" Suka respondeu: "Janaka, espiritualidade e filosofia não são propriedades exclusivas de quem quer que seja. Quem quer que tenha o interesse, quem quer que aprecie escutar estes ensinamentos, quem quer que acredite em alcançar o objetivo tem direito a este conhecimento. Certamente, você pode vir. Você é muito bem-vindo." Janaka retornou a seu palácio e voltava todos os dias para atender aos discursos.

Nessa hora, Suka quis demonstrar ao mundo que o rei Janaka tinha visão interna, visto que a maioria das pessoas tem apenas a visão externa. Com isto em mente, ele se mudou para um local no cume de uma colina de onde se contemplava a capital e fez seu acampamento lá. Neste lugar, ele continuou com seus discursos diários sobre Vedanta. Certo dia, o rei Janaka, por causa de algumas responsabilidades urgentes da administração, atrasou sua chegada lá. Suka propositadamente esperou para começar seu discurso até que Janaka tivesse chegado.

Suka não tomou conhecimento do grande número de pessoas que já estavam reunidas esperando o discurso começar. Para demonstrar seu interesse, Suka começou fazer as perguntas a esta e aquela pessoa tentando descobrir por que o rei Janaka não tinha vindo. Ele também disse a algumas pessoas para irem descobrir o que tinha atrasado o rei. Ele mesmo ficou ao longo da estrada esperando a comitiva real chegar.

Nisto, um murmúrio começou entre as pessoas. Os discípulos, as pessoas idosas e os jovens que tinham se reunido começaram a sussurrar entre si. Um disse: "Veja Suka, ele é considerado um grande sábio que renunciou a tudo; mas isso não parece ser verdade. Aqui, ele está esperando o rei Janaka. Apenas por Janaka ser um rei importante, Suka não está sendo atencioso conosco e não parece se importar com o começo do discurso."

Outra pessoa disse: "Veja este comportamento peculiar de Suka. Por que mostrar tanta parcialidade assim em relação aos reis? Para um sábio, deve haver alguma diferença entre seus sentimentos por um rei e seus sentimentos por outras pessoas?" Nessa hora, Suka percebeu toda a conversa que estava ocorrendo. De fato, era com a intenção de lhes ensinar uma boa lição que ele tinha se conduzido daquela maneira. Passou meia hora. Passou uma hora. Passaram duas horas. Suka continuou a esperar a chegada de Janaka. Ele não deu qualquer sinal de que ia começar seu discurso.

O Veneno Deve Sair Antes que os Ensinamentos Possam Entrar

Enquanto isso, aquelas pessoas cujos corações estavam um pouco poluídos começaram a expressar seus sentimentos de ciúme e raiva. Todos aqueles sentimentos impuros que lhes eram inerentes e que estavam escondidos no interior, nessa hora, começaram a sair. Isso era justamente o que Suka queria; pois, somente após o veneno que estava em seus corações sair, os ensinamentos do Vedanta poderiam entrar. Se não houver nada na cabeça da pessoa, então esta pode ser preenchida com os ensinamentos sagrados. No entanto, se a cabeça da pessoa já estiver preenchida com todo tipo de material impuro, como ela pode absorver algo puro e sagrado?

Sem esvaziar a cabeça de todo o material inútil, os ensinamentos sagrados jamais serão fixados. Assim, o desejo de Suka era que todos estes sentimentos inferiores se manifestassem e fossem expressados. Ele desejava que seus estudantes despejassem fora toda a sujeira e imundice que estava dentro de suas mentes. Ele sabia que, enquanto os corações dos alunos abrigassem apegos e maus sentimentos, seus ensinamentos não seriam absorvidos. Assim, ele os submeteu a este processo do purificação.

Neste meio tempo, com muita ansiedade, Janaka correu para atender ao discurso. Suka notou a aproximação de Janaka. Janaka podia ser visto de longe, pois, geralmente, ele não vinha sozinho. Embora Janaka não estivesse interessado em trazer ministros e servos, estas pessoas invariavelmente iriam acompanhá-lo para fornecer segurança e proteção ao rei. Logo, todos ficaram cientes de que o rei Janaka estava se aproximando. Ao entrar na área onde o discurso era proferido, Janaka prostrou-se diante do guru e, humildemente, pediu perdão pelo atraso. Em seguida, Janaka abriu sua esteira de palha e sentou-se.

Imediatamente, Suka começou seu discurso. Nessa hora, nos corações dos jovens discípulos que tinham se reunido, o ódio proliferava. Suas faces começaram a mudar por causa de seus sentimentos em relação a Suka e ao rei Janaka. 'Veja este Suka!', pensaram consigo. 'Ele se preocupa apenas em satisfazer ao rei. Essa é a extensão de seu Vedanta.'

O Fogo que Fez Surgir o Apego dos Discípulos

Suka decidiu ensinar uma lição a todas as pessoas reunidas que abrigavam tais sentimentos negativos. Após algum tempo, ele interrompeu seu discurso repentinamente e falou: "Janaka, olhe seu reino. Está em chamas!" O rei Janaka, que tinha fechado seus olhos e estava totalmente absorvido no ato de ouvir os ensinamentos sagrados, não deu atenção a estas palavras. Ele tinha fixado sua mente no Vedanta e, assim, ele manteve sua concentração apenas no Vedanta.

As outras pessoas que lá estavam reunidas viram as chamas e a fumaça surgindo sobre a cidade. Alguns discípulos, pensando em seus parentes e pertences, começaram a correr em direção à cidade localizada planície abaixo. Todos os apegos que estavam escondidos nas profundezas de seus corações, nessa hora, vieram à superfície e se expuseram inteiramente.

Alguns momentos depois, Suka disse ao rei Janaka: "Janaka, agora, este fogo chegou a seu palácio." Mesmo nessa hora, Janaka não percebeu a observação feita por Suka; Janaka não se moveu de seu assento. Ele tinha o verdadeiro sentimento de completo desapego e indiferença a todas as coisas do mundo. Seu interesse estava somente noatma. À exceção desta absorção no atma, não havia qualquer outro sentimento.

Entre os que compareceram ao discurso, havia vários mestres espirituais célebres e de renome mundial. Suka quis demonstrar-lhes que eles podiam ser altamente eruditos, mas não tinham matado seus apegos. Quando estes eruditos viram as chamas, ficaram apreensivos; eles se viraram para o rei Janaka e começaram a orar: "Oh, rei! Oh, rei! Por favor, faça algo em relação a esta terrível catástrofe que está acontecendo lá embaixo!" Mas Janaka tinha entrado no estado de samadhi; ele desfrutava a bem-aventurança do atma.

Lágrimas de alegria desciam pelo rosto de Janaka. Nem por um momento, ele oscilou dos sagrados pensamentos em que tinha fixado sua concentração. Suka observou o estado de Janaka e ficou muito satisfeito. Após algum tempo, aqueles discípulos que tinham corrido em direção à capital voltaram relatando que, de fato, não tinha havido fogo algum. Então Suka começou a explicar aos discípulos o significado de tudo que tinha ocorrido.

Suka disse: "Bem, filhos, eu não atrasei o começo de meu discurso por duas horas porque Janaka é o rei e, conseqüentemente, um homem muito importante. Eu atrasei porque é ele uma pessoa merecedora, um verdadeiro buscador; e eu acredito ser justo esperar por tal pessoa. Pelo fato dele ter removido o ego e o orgulho; pelo fato dele ter verdadeira humildade, dedicação e desapego; ele tem a autoridade de se favorecer do discurso. Vocês escutam, mas vocês não entendem ou não põe em prática o que é dito; portanto, vocês não têm tal autoridade.

"Em vez de ensinar centenas de pessoas que não fazem qualquer esforço para aplicar estes ensinamentos em suas vidas diárias, eu sinto inclinação para ensinar ao menos uma pessoa que verdadeiramente possui o direito de ser ensinada por ter integrado estes sagrados preceitos a sua própria vida. Qual é a utilidade de ensinar pessoas cheias de apego e egoísmo? É como jogar uma pedra na água. A pedra pode ficar na água por qualquer número de anos, mas esta não absorverá nem mesmo uma gota d’água.

"Mesmo que eu possa ter apenas uma pessoa como Janaka, é o suficiente para que eu prossiga. Por que ter um grande número de inúteis pedras brilhantes? Se houver ao menos uma pedra preciosa verdadeiramente valiosa, isso é o bastante. Por que ter dez acres da terra estéril se você puder ter um lote, mesmo pequeno, que seja fértil e abundante em sua produção? Se um rei como Janaka puder se tornar sagrado, então ele poderá transformar todo o seu reino e torná-lo um império sagrado que será um exemplo para o mundo inteiro." A intenção de Suka era fazer de Janaka um rei sagrado e, ao mesmo tempo, ensinar uma valiosa lição aos discípulos presunçosos que se reuniram em torno dele.

Através de Arjuna, Krishna Ensinou o Mundo Inteiro

Krishna tinha uma intenção similar ao ensinar a Gita a Arjuna. Arjuna também era uma pessoa sagrada e, por seu caráter e elevados ideais, tinha se qualificado para os ensinamentos. Arjuna tinha controle sobre os sentidos, ele obteve grande poder espiritual da penitência que tinha executado. Ele tinha suprimido amplamente seus apegos mundanos. Ele tinha um intelecto altamente desenvolvido e havia se tornado habilidoso em muitas artes. E ele tinha se entregado a Krishna com verdadeira humildade.

Krishna decidiu que Arjuna estava pronto para a sabedoria mais elevada e resolveu transformá-lo num ser verdadeiramente sábio. Com o propósito de beneficiar o mundo inteiro se Arjuna pudesse ser corrigido, Krishna tomou grande cuidado ao fornecer estes sagrados ensinamentos a Arjuna. Arjuna tinha capacidade e virtude para se elevar às grandes altitudes espirituais. Por essa razão, foram dados vários títulos a ele. Em sânscrito, a palavra arjuna significa: aquele que é puro.

Outro título que Krishna deu a Arjuna foi: ‘aquele de coração sagrado’; outro foi: ‘jóia humana’. Arjuna era uma pessoa tão poderosa que poderia, se quisesse, empreender atos que estarreceriam o mundo inteiro. Mas Arjuna sempre agiu puramente, de acordo com a retidão. Ele obteve o direito de usar uma poderosa arma que não podia ser manejada por qualquer outro ser vivente de sua época. Originalmente, esta arma pertencia ao Senhor Shiva. Esta mesma arma terrível, que estava originalmente com Shiva, e, em seguida, com o rei Janaka numa época anterior; no tempo de Krishna e Arjuna, tornou-se Gandhiva, o formidável arco de Arjuna. Obtendo a graça de Shiva, Arjuna foi capaz de ganhar esta magnífica arma. Em todos os aspectos, Arjuna era um herói proeminente. Ele era também um ser humano tão nobre e correto que Krishna o escolheu para transmitir a Gita, de modo que o mundo inteiro se beneficiasse.

É pela boca que você oferece alimento ao estômago. Assim, é através do estômago que o alimento alcança o corpo inteiro. Assim como o alimento alcança todos os membros do corpo quando oferecido ao estômago, a Gita foi dada a uma pessoa pura e abnegada como Arjuna de modo que pudesse alcançar o mundo inteiro. Um dos nomes de Arjuna é Parthiva, que significa filho da Terra. Todos vocês são filhos da Terra. Uma vez que Arjuna pode ser considerado um proeminente representante de toda a humanidade; Krishna sentiu que, o convertendo numa pessoa sagrada, com o tempo, o mundo inteiro estaria transformado.

Ações Comuns, Ações Desapegadas e Ações Sagradas

Comparadas às ações comuns, que você executa com o pensamento de ser o autor, as ações feitas sem qualquer sentimento de autoria são muito mais elevadas. No entanto, uma ação é ainda mais elevada se for feita com abnegação completa, executada impessoalmente, com indiferença total e sem qualquer apego. Mas, quando a ação é oferecida inteiramente ao Senhor, quando se transforma num sacrifício sagrado, esta é ainda mais sagrada do que todas as outras. Assim, Krishna mandou Arjuna oferecer todos os atos dele ao Senhor. Quando Arjuna alcançou este estado evolutivo, isto é, quando Arjuna agiu com total abnegação e ofereceu tudo o que fazia ao Senhor, Krishna começou a ensinar-lhe a Gita.

Num estágio inicial, todo ser humano tem que executar ações e estar ativamente engajado nas tarefas para as quais ele está apto. A pessoa precisa executar ações para não desenvolver a preguiça. A pessoa preguiçosa é absolutamente inútil ao mundo. Swami não aprova nem incentiva qualquer pessoa a ser preguiçosa. Primeiro, você deve executar ações comuns. Depois, você deve entrar no estágio em que executa todas as suas ações sem qualquer interesse pessoal. Gradualmente, você transforma estas ações em yoga; você transforma trabalho em adoração. Este é um dos principais ensinamentos da Gita.

A Gita Irá Dá-lo O Que Quer Que Você Está Pronto Para Receber

A Gita ensinou a verdade de muitas maneiras distintas com o objetivo de destruir completamente o egoísmo, a presunção, a arrogância, o orgulho, a possessividade, o apego, o ódio e outras qualidades venenosas. Nesse processo, a Gita ajudou a muitos diferentes tipos de pessoas a desenvolverem uma natureza sagrada. A Gita pode ser comparada à árvore dos desejos. O que quer que você deseje da Gita, esta irá dá-lo. O significado dado aos vários ensinamentos da Gita depende de seu ponto de vista e de seu estágio de evolução espiritual. Ninguém pode dizer que conhece o único significado correto para um determinado verso; ninguém tem a autoridade de reivindicar que o seu significado é o único.

Os ensinamentos da Gita se aplicam a cada nível de buscador espiritual. Portanto, a Gita pode ser descrita como o coração do Vedanta. Trata-se da própria essência deste. A Gita é uma arca do tesouro cheia de ouro. A Gita é um caminho coberto de flores. A Gita é o sustentáculo de todos os buscadores e aspirantes sérios. A Gita permite que esses buscadores nadem e sobrevivam neste mar da vida mundana. A Gita ajuda esses buscadores a atravessar todos os obstáculos e alcançar o objetivo. Uma pessoa que não se importe com a Gita deixa escapar o próprio objetivo da vida.

Quaisquer que sejam os seus sentimentos, o significado da Gita que você obterá será proporcional a seu nível de desenvolvimento espiritual. Por exemplo, muitos dos devotos presentes saberão o canto em sânscrito que é usado como uma fórmula sagrada para evocar as bênçãos do Senhor. A primeira linha deste canto se traduz assim: 'Ao Senhor vestido de branco'. O senhor Vishnu a tudo permeia. Ele é onipresente. Ele é descrito como tendo a pele de cor cinza. Ele também é descrito como tendo a cor da lua, esbranquiçado, que é o mesmo que dizer que ele possui a cor cinza. Ele também foi descrito como tendo quatro mãos e a mais agradável e sagrada face, que não exibe qualquer sentimento de exaltação ou desânimo. Este é o sentimento dos crentes, e é desta maneira que eles oram ao Senhor. Mas os descrentes podem usar exatamente as mesmas palavras, embora a imagem que descrevam com estas palavras possa ser completamente diferente.

A palavra em sânscrito que inicia este canto também se refere àquele que usa roupa branca. Seja qual for a situação em que perceba este verso, você vê que este não transmite qualquer sentimento: ‘cor de cinza e possui quatro membros’. A pessoa pode pegar estes atributos, uni-los todos e dizer que estas palavras descrevem um asno. Um asno poderá estar carregando a roupa branca de um lavador de roupa, ele tem quatro membros, um corpo de cor cinza e um rosto que é o mais paciente possível. Ele não está restrito a um lugar específico: você pode encontrá-lo vagando pelas estradas, na frente da casa, em toda parte. Este é o significado dado a estas mesmas palavras pelos descrentes. Assim, se o verso se refere ao altíssimo Senhor ou a um humilde asno, isso depende de como você o olha; depende de se você é um devoto ou um descrente, e depende do fato de você estar interessado ou não por tais declarações espirituais.

Da mesma forma, a Gita proporciona diferentes significados a diferentes tipos de pessoas. Baseado no estado de seus sentimentos, cada um encontrará o significado que lhe é mais apropriado ao estágio alcançado na jornada espiritual. Assim, esta Gita é uma grande árvore dos desejos; uma vaca celestial, dando seu leite de bom grado. Você pode obter da Gita qualquer significado que deseje, qualquer ensinamento que esteja pronto para absorver. Há abundância de água no oceano, mas a quantidade de água que você pode levar depende da capacidade da vasilha que você trouxe para encher. A água será a mesma, a diferença estará somente no tamanho da vasilha. Do mesmo modo, pode haver diferenças em seus sentimentos; mas a Gita é uma só.

A mensagem básica da Gita é a mesma para todos, sua sagrada finalidade é transformar a humanidade em divindade. Você não deve considerar um livro tão sagrado de maneira superficial. Você deve abordar a Gita com um profundo sentimento de devoção e compromisso. Você deve cantar os versos com sentimento genuíno e com compreensão. E você deve praticar, diariamente, ao menos um ou dois dos preceitos fornecidos aqui. Somente então, você irá obter completa realização em sua vida.

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