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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O livro do Caminho - 19º Capítulo: Controle dos Sentidos – A Chave Para o Saber Superior

Uma vez que você tenha obtido verdadeiro desapego, então, mesmo a obtenção dos mundos celestiais mais elevados parecerá trivial e insignificante para você. Arjuna afirmou: "Krishna, mesmo que me fosse dado controle sobre os três mundos e eu fosse feito o senhor de toda a criação, isto não significaria nada para mim. Eu não tenho interesse algum em quaisquer destes assuntos."

Encanações do Amor,

Arjuna tinha conseguido grande força de renúncia na época em que se entregou e estava pronto para receber os ensinamentos da Gita. Naquela situação, ele tinha se desapegado do mundo e se apegado firmemente ao princípio transcendente manifestado diante dele na forma do Senhor Krishna. Tal desapego pelo mundo e seus objetos e o apego ao princípio divino, que é a sua verdadeira essência, também devem se tornar o seu objetivo. Este é o destino de cada ser humano. No decorrer de sua evolução espiritual, você irá, como irão todos as outras pessoas, com o tempo, desenvolver a renúncia e o desapego aos objetos dos sentidos e, ao mesmo tempo, desenvolver uma intensa aspiração pelo atma que está no interior.

Controle dos Sentidos - A Base Para o Conhecimento do Ser

Se fosse construir uma casa, mesmo que fosse uma simples e comum, você não tomaria grande cuidado para colocar uma fundação apropriada? Se isso é verdade para uma pequena casa, então, quão mais cuidadoso você deve ser ao colocar uma sólida fundação para o grande tesouro que é a casa do conhecimento do ser? Para fornecer tal fundação, Krishna, em seus ensinamentos a Arjuna, na Gita, enfatizou a necessidade de se controlar os sentidos desenvolvendo um forte desapego aos objetos do mundo. Este é um requisito essencial para se construir uma base sólida. Se a base não for forte, a mansão do conhecimento do ser não durará muito tempo. Irá desmoronar rapidamente.

A renúncia não surge repentinamente para se tornar a base do conhecimento do ser. Este forte desapego não acontece meramente no impulso de um momento. Esta qualidade deve ser desenvolvida e praticada constantemente, junto com a devoção e o controle dos sentidos. Se quiser acender uma lamparina, você necessita de óleo, de um recipiente para armazenar este óleo e de um pavio. Da mesma forma, para acender a lamparina da sabedoria, há necessidade de desapego, devoção e controle dos sentidos. O desapego pode ser comparado ao recipiente e a devoção, ao óleo. O controle dos sentidos pode ser comparado ao pavio. Se você unir estes três elementos, o próprio Senhor virá acender a lamparina do auto-conhecimento dentro de você. Antes de acender esta lamparina no coração de Arjuna, Krishna lhe disse que, primeiro, ele deveria estabelecer o completo controle sobre os sentidos.

Este estrito controle sobre os sentidos não é algo que pode ser conquistado pela maioria das pessoas. Mesmo que fizessem um esforço neste sentido e conseguissem algum controle sobre os sentidos, as pessoas comuns não continuariam com estes esforços; pois elas ficariam convencidas de que, desistindo dos prazeres dos sentidos, suas próprias vidas viriam a ter um fim. Elas consideram os prazeres dos sentidos como a única e verdadeira fonte de felicidade. Isto é o que elas experimentam dia após dia. Entretanto, a alegria ilimitada do auto-conhecimento é algo que elas não experimentaram nem mesmo uma só vez. Quando possui um pássaro em sua mão, você deixaria este ir e tentaria apanhar os dois pássaros que podem, ou não, estar escondidos no arbusto? Raciocinando desta forma, elas consideram loucura desistir dos prazeres dos sentidos de que desfrutam todos os dias a fim de obter a bem-aventurança do atma através do conhecimento do ser; uma experiência que elas nunca tiveram.

Os Prazeres Sensoriais São Prazeres Ilusórios

Por estas razões, você encontrará muitas pessoas criticando as doutrinas do desapego e do controle dos sentidos que são ensinadas na Gita. Elas dizem que não são realmente úteis e aplicáveis às pessoas comuns em suas vidas diárias. No entanto, estas críticas surgem porque elas são ignorantes sobre verdadeiro processo que está ocorrendo. Todos os prazeres momentâneos de que desfrutam são apenas reflexos da verdadeira alegria que existe sempre no coração. Pensando repetidamente numa determinada pessoa ou objeto, a mente parte de seu próprio lugar repouso e vai em busca daquela pessoa ou objeto e assume a sua forma. Por conseguinte, a mente ilude a si mesmo pensando que está desfrutando esse objeto. Mas isto nunca pode ser alegria real. Isto é apenas um tipo limitado de alegria que é imaginada na mente; um reflexo da alegria interna verdadeira, que é a fonte de todas as alegrias. Para tornar isto mais claro, considere um exemplo.

Um pequeno bebê pode estar chupando o polegar e bebendo sua saliva. Ele se deleita com isto porque pensa que está tirando leite de seu polegar. Mas, de fato, aquela saliva, que o bebê pensa ser leite, está vindo de sua própria boca e não de seu polegar. Ele se ilude pensando que a fonte de sua alegria se originou fora de sua boca. Considere um outro exemplo.

Um cachorro encontrou um osso duro. Uma vez que possui o osso, este se torna muito querido e ele não quer compartilha-lho com qualquer outro cão. Assim, ele o leva a um lugar solitário. Lá, ele olha, admira e começa a roê-lo. Em se tratando de um osso velho, este é muito duro. Com todo entusiasmo e força, ele vai mordendo até deslocar um dente de sua gengiva. Um pouco de sangue é derramado e escorre para o osso. O cachorro está convencido de que o sangue saiu desse osso e desfruta imensamente o sabor. Contudo, o sangue não saiu do osso; saiu de sua própria boca. O cão não percebe a verdade. Assim como no caso do bebê, o cão ficou iludido seguindo as imaginações de sua própria mente.

Toda Alegria Surge Somente do Ser

De maneira semelhante, os ignorantes pensam que estão obtendo alegria dos objetos dos sentidos. No entanto, esta alegria limitada que eles experimentam não vem de fora deles mesmos. Sempre presente em seus próprios corações, está a verdadeira alegria. Esta alegria interna imutável é sobreposta a um objeto fazendo com que este pareça como se fosse a fonte da alegria. Desta forma, eles acreditam que estão tendo alegria com as coisas do mundo, mas alegria deles é meramente um pequeno reflexo da alegria ilimitada que está escondida no interior. Uma vez que se iludem pensando que a alegria e o prazer que eles obtêm no mundo exterior são experiências verdadeiras e que a alegria que podem obter do mundo interno é apenas uma ilusão, eles perdem todo o interesse na prática do desapego. Então, eles desistem de buscar a alegria transcendental e continuam a perseguir somente as diversões mundanas, as quais acreditam que podem ser obtidas através dos objetos dos sentidos.

Se um objeto proporcionasse alegria realmente, então todos experimentariam essa alegria na mesma proporção. Se a alegria fosse, de fato, inerente ao próprio objeto; então a alegria derivada desse objeto deveria ser a mesma para todas as pessoas. Contudo, nós sabemos que não é este o caso. Se um determinado objeto dá alegria e prazer a algumas pessoas, o mesmo objeto pode ser repulsivo a outras pessoas, proporcionando desgosto a elas. Por exemplo, algumas pessoas podem gostar imensamente de pepinos enquanto outras podem não gostar destes de modo algum. Se a alegria fosse uma parte integrante dos pepinos, então haveria uma única experiência para todos. Os pepinos não dariam um sentimento de alegria a uns e de desagrado a outros. Por que há esta diferença na reação das diversas pessoas? Por que há coisas de que você pode gostar que não são apreciadas por outros? Isto deve significar que a alegria que você experimentou não estava associada diretamente ao objeto, mas sim que esta alegria veio de dentro. O sentimento que você experimentou era apenas um reflexo de sua própria e inexaurível fonte interna de alegria.

Os Objetos dos Sentidos Podem Proporcionar Apenas Alegria Passageira

Estes gostos e desgostos que você sente agora são apenas fenômenos passageiros. Não são permanentes. Considere por um instante que, numa determinada hora, você estava com muita fome. Agora, suponha que lhe foi servido um alimento que você achou muito saboroso. Quem fez este alimento ficar tão delicioso? Se examinasse esta pergunta com cuidado, você concluiria que foi a sua fome que fez tudo parecer tão bom. Enquanto estava com fome, você considerou a refeição que lhe foi servida como sendo a mais agradável. No entanto, depois que a sua fome foi satisfeita; mesmo que as iguarias mais suntuosas fossem colocadas diante de você, estas não lhe atrairiam. Quando você está com fome, comida comum terá um sabor muito bom, lhe proporcionando grande alegria. Mas, uma vez que sua fome está satisfeita, mesmo o alimento mais delicioso não é, de modo algum, saboroso para você. A única forma de você entender esta mudança é: todos estes gostos e desgostos emanam diretamente de você, o indivíduo. Estas mudanças não surgem dos objetos em si. Todos os seus sentimentos de alegria e de tristeza emanam do ser interno, não dos objetos externos.

As pessoas comuns pensam que o prazer ou a dor que elas obtêm do contato com as pessoas de quem gostam ou desgostam vêm dessas pessoas, mas não é assim. Os gostos e desgostos das pessoas são responsáveis pelas alegrias e tristezas delas. Pode ser observado que, quando as pessoas têm uma forte inclinação pelas outras, tendo-as como muito queridas; então, quaisquer que sejam as atitudes ou ações dessa pessoa amada, quem gosta ainda gostará do mesmo modo. Qual é a razão para esta fidelidade inabalável, esta consideração afetuosa que uma pessoa pode ter por outra, apesar das várias coisas repugnantes que essa outra pessoa pode estar dizendo ou fazendo? A razão é que, quando você gosta de alguém, as coisas que essa pessoa diz e faz irão parecer agradáveis a você. Quando considera uma pessoa como sendo muito querida, então você sente que ama muito essa pessoa. Esta qualidade que você chama 'amor' é, na verdade, um sentimento de apego dentro de você o qual você está dirigindo a outro indivíduo. Em tal apego, o amor e a alegria que parecem estar presentes têm origem apenas em você. Se a outra pessoa tem sentimentos semelhantes ou não, os sentimentos que você experimenta, na realidade, vêm apenas de seu interior. Estes sentimentos não são parte da outra pessoa, de forma alguma. Algo similar foi dito por um grande sábio a sua esposa nas antigas escrituras.

O sábio disse a sua esposa: "Minha querida, você não me ama por amor a mim, mas por amor a você mesma. Tudo o que você ama e preza, você ama somente por causa doatma, seu ser superior. O atma é mais querido do que tudo, e é por amor a ele que alguém lhe é querido. Estes sentimentos que você tem pelos outros são apenas manifestações desse grande amor por seu próprio ser verdadeiro."

A Consciência Corpórea Corrompe o Amor Puro do Ser

No mundo inteiro, cada indivíduo, seja quem for, amará outra pessoa apenas por amor a si mesmo, não por amor a outra pessoa. Se ele ama um objeto, ele o ama pelo ser em si, e não pelo objeto. Esse ser é o atma, o ser verdadeiro. Mas quando o amor puro do atma se torna corrompido pela consciência do corpo e os sentidos assumem o controle, apego e egoísmo surgem. Isto conduz inevitavelmente ao pesar.

O corpo é impermanente. A morte é certa para todos. Mesmo que alguém fosse viver por cem anos, ele ainda teria que encarar a morte um dia. Todos sabem isso. Mas, não é estranho que aqueles que devem morrer estão chorando e sentindo pesar por aqueles que já morreram? Todos, com certeza, irão se encontrar com a morte; assim, todos podem ser considerados como estando entre os mortos. Ainda assim, mesmo que eles próprios estejam morrendo, eles sentem tristeza e pesar ao pensar em alguém que morreu. É como se a morte fosse algo totalmente incomum e inesperado, ao invés de ser o término natural que deve vir para todos. Esta tristeza que surge, particularmente quando alguém próximo e querido morre, só pode existir por causa do apego. Após saber muito bem que a morte é certa, se você ainda se preocupa com alguém, isto é devido ao apego que você desenvolveu por aquele corpo. Este apego é responsável por todo o seu pesar. Portanto, quando alguém morre, a causa preliminar para o pesar é o apego, não o amor.

Basicamente, todo ser humano, em todos os momentos, é um buscador da felicidade. Ele tem sede de felicidade e nunca deseja a tristeza. O homem sempre busca ao lucro, nunca à perda. Essa é a sua própria natureza. O lucro, a alegria e a bem-aventurança são inerentes a sua composição; estão no âmago do ser. Cada homem, desde o começo, gostaria de ter apenas ganho e não dor. Para um homem de negócios, a primeira coisa em que ele pensa é em seu lucro. Ao pesar algum produto aqui na Índia, como o arroz, se o número de quilogramas passar de seis; então o comerciante não dirá '7', mas '6 + 1'. Isto porque a palavra para sete também significa 'chorando'. O comerciante usará outra palavra para evitar expressar esta palavra infeliz. Assim, o homem nunca deseja encarar a infelicidade e a perda. Ele deseja somente o lucro, o ganho e a alegria que estes proporcionam.

O Conhecimento do Ser Proporciona a Maior Alegria

De todos os lucros e ganhos possíveis, o maior de todos os lucros, o que proporciona a maior felicidade, é o auto-conhecimento, o conhecimento do atma. Essa é a alegria a que você deve buscar e adquirir.

Considere uma bela rosa. No momento em que você a vê, a alegria emana de seu coração. Do mesmo modo, quando você vê uma pessoa bonita ou qualquer coisa bela neste mundo, no mesmo instante, você sente alegria. Muitas pessoas empreendem viagens de turismo. Por que viajam? Para ter alegria com a viagem. Assim, você pode ver a beleza da natureza, das pessoas e você pode ter grande alegria por toda a beleza que você vê. Mas, por quanto tempo este tipo de alegria e de beleza duram? A rosa que você colheu hoje começará a secar amanhã; assim, a beleza desta se perde. No momento em que a beleza se desvanece, a alegria que você derivou previamente desta também diminui. Ocorre o mesmo nos diferentes estágios da vida – infância, juventude, idade adulta e velhice.

Pode-se dizer que a infância reflete a divindade. Durante a primeira fase da infância, o indivíduo não sofre muito de ódio, ciúme, raiva, e assim por diante. Jesus disse que, uma vez que as crianças realmente não possuem qualquer má qualidade, elas poderiam ser consideradas divinas. Durante esse período da vida, não há maus pensamentos ou maus traços na mente ou no corpo. As crianças pequenas são bonitas porque não possuem sentimentos impuros originados de pensamentos impuros. Conforme crescem, elas desenvolvem, gradualmente, qualidades corrompidas. No momento em que estas qualidades negativas crescem, a beleza da criança pequena desaparece. Por essa razão, o surgimento dos pensamentos impuros conduzem a palavras impuras e a ações impuras que resultam no fato da criança perder sua beleza.

Beleza e Alegria

Nós percebemos que a beleza possuída por uma pessoa é transitória. Gradualmente, esta se desvanece e, portanto, não pode proporcionar alegria permanente. Até mesmo um jumento recém-nascido é muito bonito, mas, gradualmente, conforme vai crescendo, ele desenvolve um grande estômago, fica com o pêlo manchado e se torna feio de se ver. Enquanto não há qualquer qualidade negativa, tudo parece belo. No entanto, seja quem for a pessoa ou seja qual for o objeto dos sentidos, você constatará que a sua beleza é limitada e, portanto, a alegria derivada desta beleza também é limitada. A alegria e a beleza sempre andam juntas. Qual é o único princípio que possui alegria e beleza permanentes dentro de si? É o atma! Ele nunca muda, não possui modificações. De fato, ele não possui qualquer forma. A beleza e a alegria são a sua forma.

Embora a alegria emane naturalmente do âmago de seu coração, você pensa que esta alegria está sendo derivada dos objetos dos sentidos e dos órgãos sensoriais. Entretanto, não é assim. Toda a alegria vem de seu interior, e você tem se iludido pensando que esta vem de algo que está fora. As escrituras falam da alegria etérea que emana do mundo celestial do criador. A alegria que pode ser experimentada através do contato entre os sentidos e os seus objetos é extremamente pequena quando comparada a essa alegria criadora. A alegria sensorial pode ser descrita como uma gota no oceano de júbilo que é a alegria do criador. Contudo, mesmo este vasto oceano de alegria experimentada pelo criador do universo, por si mesmo, é tão pequeno quanto um átomo quando comparado à alegria ilimitada que é irradiada de dentro do coração espiritual que você possui. Essa é a fonte original de toda felicidade. É a alegria das alegrias. O coração pode ser comparado à luz mais esplendorosa e mais radiante que brilha em toda parte. Tente entender esta resplandecente luz espiritual que brilha sempre, que esta em toda parte e é a sua verdade interior.

A Luz do Atma Tudo Ilumina

Durante o dia, o Sol ilumina os vários objetos do mundo; durante a noite, a Lua faz um papel semelhante, apesar de iluminar menos. Portanto, você pode afirmar que o Sol e a Lua são responsáveis pela a natureza luminosa do mundo e seus objetos. Mas, durante os sonhos, você também vê várias coisas; onde estão o Sol e a Lua nesse estado? O Sol que você vê durante o dia, em seu estado de vigília, não está lá no estado de sonhos; nem a Lua está lá; nem qualquer outra fonte de luz visível está lá para iluminar os vários objetos. Entretanto, você pode ver um mundo inteiro, a saber: o mundo dos sonhos. O que ilumina esse mundo? No estado de sono profundo, há escuridão absoluta. Não há conhecimento ou sabedoria nesse estado. Mas, como você sabe que está escuro? O que lhe permite perceber esta escuridão?

O estado de sono profundo foi descrito como o estado inconsciente, o estado de sonho foi descrito como o estado subconsciente, o estado de vigília foi descrito como o estado consciente. Há um quarto estado que transcende todos estes outros e que pode ser descrito como o estado super-consciente. No estado super-consciente, você pode ver tudo em toda parte e desfrutar a alegria suprema. Qual é a luz que ilumina este estado bem-aventurado e lhe permite experimentar esta alegria completa? Essa luz é o esplendor que emana do atma. Esta luz também ilumina todos os outros estados e permite que você os perceba.

Nos Vedas, os sábios falaram deste estado super-consciente. Eles declararam: "Nós fomos capazes de perceber um estado que transcende os outros, incluindo a escuridão do estado de sono sem sonhos. Além do estado de sono sem sonhos está a suprema luz do atma que ilumina os estados de vigília, de sonho e de sono profundo." Para compreender isto um pouco melhor, considere um exemplo do estado de vigília. Quando você fecha seus olhos por um minuto, o que exatamente você está vendo? Você dirá que não há nada lá, apenas absoluta escuridão. Mas então surge a pergunta: 'Como é que eu sou capaz de perceber esta escuridão? Uma vez que eu pareço estar vendo esta escuridão e sou capaz de descrevê-la, deve haver uma luz na consciência que ilumina este estado e me permite perceber até mesmo esta escuridão.' Essa luz é a luz do atma.Somente através desta luz transcendental que todas as demais luzes podem brilhar.

Nós comemoramos o festival da luz no qual acendemos uma vela e, dessa única vela, vai-se acendendo todas as outras velas e lamparinas. Esta primeira luz é a base para acender as outras. É pelo fato de possuirmos esta primeira luz que somos capazes de acender tantas outras. Para os seres vivos, esta primeira luz é a luz divina do únicoatma. Com ela, por sua vez, todas as lamparinas individuais, representando os inúmeros seres individuais, são iluminadas. É por causa desta luz divina que os olhos podem ver. Esta luz divina brilha no interior e ilumina todos os seres. Mas ela não é apenas a fonte de todos os seres vivos, é também a fonte de todos os objetos e de todos os corpos externos de luz, tais como o Sol e a Lua.

Você pode imaginar como ter a certeza de que esta luz divina ilumina todos os demais objetos e luzes, uma vez que esta não pode ser vista. Neste caso, o exemplo de uma pilha será instrutivo. Você não pode ver a energia elétrica que está nas pilhas, mas pode ver a luz no bulbo se ligar o fluxo da corrente elétrica. Se não houvesse energia elétrica na pilha, você não teria luz alguma no bulbo. O corpo pode ser considerado como sendo uma lâmpada elétrica acionada por esta pilha que é a mente; seus olhos são o bulbo e sua inteligência, o interruptor que controla o fluxo. Nesta bateria que é a mente, está armazenado um tipo muito especial de energia derivada do atma. Em baterias elétricas comuns, a energia se esvai muito rapidamente; no entanto, a corrente atmica flui de maneira contínua pela mente. Os Vedas declararam que a mente é o receptáculo para o armazenamento da energia atmica. Esta fonte inesgotável fornece um fluxo temporário de prazer quando algum objeto agradável está sendo percebido.

A Alegria do Ser É a Única Alegria Verdadeira

Todas as alegrias e prazeres que você desfruta neste mundo são apenas temporários e são apenas reflexos da alegria sem tamanho que está em seu interior. Por ignorância, você acredita que a sua alegria vem dos objetos dos sentidos e que esta alegria momentânea é verdadeira. Contudo, somente aquilo que é permanente é verdadeiro. Estas alegrias temporárias que estão associadas às coisas do mundo não são a verdadeira alegria. Somente a bem-aventurança eterna, que é o atma, é verdadeira; as outras vêm e vão. Todas as coisas que você vê no estado de vigília desaparecem no estado de sono com sonhos. Você deixa para trás todas as alegrias e tristezas que são experimentadas no estado de sonho quando volta ao estado de vigília. As pessoas e os objetos que você vê no estado de vigília irão aparecer como reflexos mutáveis no estado de sonhos e, então, estes serão completamente absorvidos e desaparecerão no estado de sono profundo. Desta maneira, sua alegria muda assim como mudam estes estados.

Todas as alegrias do mundo, que você considera tão permanentes, irão lhe causar muitos problemas no final e lhe induzir à tristeza. "Por essa razão," Krishna disse a Arjuna, "preste atenção somente a sua verdade interna; a base de onde todas as manifestações surgem. Então, as aparências externas e as impressões dos sentidos não irão incomodá-lo." A base não muda, enquanto as manifestações que dependem dessa base mudam continuamente. Se a base mudasse junto com as manifestações, seria impossível para você até mesmo viver. Considere este pequeno exemplo.

Em diversas oportunidades, você pode ter utilizado vários tipos de veículos para viajar de um lugar a outro, tais como carros, trens ou ônibus. O carro pode estar se movendo razoavelmente rápido, assim como o ônibus; e mesmo que você esteja apenas andando, você pode ir bem rápido. Em cada caso, este movimento será em relação à estrada que permanece fixa e inalterada. Suponha que, junto com o carro ou ônibus que se deslocam, a própria estrada também se movimentasse rapidamente, como num violento terremoto. Então, o que aconteceria? Você certamente estaria se deslocando, mas poderia acabar em qualquer direção. Você provavelmente não alcançaria seu objetivo, apesar dos esforços e das grandes dificuldades ao longo do caminho. A fim de alcançar seu objetivo, a estrada deve ser fixa.

Pelo fato da origem atmica – o morador interno de cada coração – ser permanente e invariável, as pessoas podem desfrutar os objetos impermanentes e mutáveis do mundo. Mas Krishna avisou a Arjuna: "Não fique satisfeito com estes prazeres furtivos, os quais você acredita erroneamente vir do mundo. O mundo é transitório. Este é instável e cheio de pesar. Trata-se da manifestação externa que muda sempre. Não se trata da base permanente. O mundo não pode lhe conduzir a sua verdade. Como você pode contar com o mundo para ser seu suporte quando este está sofrendo tantas alterações e modificações? Seria possível obter alegria permanente deste? Deixe o mundo e se volte para o princípio transcendental. Volte-se para o atma. Este é sempre invariável e imutável. Lá, você encontrará a alegria sem fim que tem procurado no mundo externo de maneira infrutífera."

Não Dirija Com Seu Pé No Freio

Agora, alguns de vocês podem estar pensando que, se ensinarem o controle dos sentidos às crianças pequenas, elas irão se tornar seres humanos inertes e desamparados? Entretanto, ninguém está dizendo a elas para não fazer uso dos sentidos. Apenas, que elas devem aprender a controlá-los corretamente. Há freios num carro; e, sempre que há perigo, você usa os freios para parar o carro. Quando Swami está pedindo que vocês controlem os sentidos e a mente, alguns de vocês podem estar imaginando se seriam capazes de viver de algum modo e continuar suas atividades de rotina. Swami não está pedindo que você dirija com o seu pé no freio; mas que use os freios quando for necessário controlar o carro, sempre que houver algum perigo. Você deve exercer controle quando houver algum perigo, tal como pensamentos impuros, sentimentos impuros, visões impuras, ao ouvir coisas impuras, e assim por diante. Se não tiver freio algum, você certamente terá pesar. Um boi que não possa ser controlado, um cavalo sem rédeas, um carro sem freios, uma pessoa sem controle dos sentidos, todos são extremamente perigosos e indicam desastre.

"Portanto, Arjuna," disse Krishna, "controle seus sentidos e sua mente e reconheça os defeitos inerentes a todos os objetos do mundo. Quando desviar das manifestações mutáveis e se estabelecer na base imutável, então você será capaz de viver feliz em qualquer lugar; pois estará estabelecido na fonte de toda felicidade, o atma, que é eterna alegria."

Os ensinamentos da sabedoria não o advertem para deixar a sua família ou os seus deveres no mundo. Fique no mundo. Use os seus sentidos. Mas faça isso de uma maneira correta e ética, adequada ao momento e à circunstância, nunca se esquecendo de seu verdadeiro propósito. A Gita ensina a importância da disciplina de observar limites em todas as suas atividades. Os freios são usados num carro para o bem-estar e proteção dos passageiros, assim, eles podem alcançar o objetivo com segurança. Da mesma forma, os sentidos devem ser controlados e usados para o bem-estar e proteção do indivíduo; de modo que ele possa terminar a viagem com segurança. É por esse motivo que Krishna insistia tanto para Arjuna desenvolver o controle sobre os sentidos.

Desapego, Devoção e Controle dos Sentidos

Este controle dos sentidos é algo como o pavio da lamparina de seu coração. Apenas ter o pavio do controle dos sentidos não é o bastante. Você também deve ter o óleo, que é o combustível para a lamparina; esse óleo é a sua devoção. E deve haver um recipiente para conter este óleo, e esse recipiente é o seu desapego. Se possuir o recipiente, o óleo e o pavio; você será capaz de acender a lamparina facilmente. Ainda assim, alguém deverá acendê-la. Esse alguém é Deus. Uma vez que você tenha desapego, devoção e controle sobre os sentidos; então a divindade virá e acenderá a lamparina em seu coração. No exemplo de Arjuna, foi Krishna quem executou este ato sagrado de acender a lamparina e revelar o esplendor do atma no coração de Arjuna.

Suponha que você tenha algumas flores, uma agulha e uma linha. Estas irão se transformar automaticamente numa guirlanda? Não, deve haver alguém para montar a guirlanda. Você pode ter ouro e pedras preciosas; mas, sem um ourives para trabalhá-las, você não poderá obter uma bela jóia destes artigos. Você pode ter grande inteligência, pode possuir livros que contenham o conhecimento mais elevado e ter os olhos perspicazes para lê-los; mas, sem alguém para ensiná-lo a ler, todos serão sem sentido e inúteis a você.

O atma está sempre presente, ele nunca se transforma, ele jamais vem e vai. Os ensinamentos espirituais também estarão sempre presentes, estarão esperando por você quando estiver pronto para recebê-los. Além disso, interiormente, você pode possuir uma intensa ânsia pela iluminação. Tudo isto pode estar disponível a você, mas, a menos que o verdadeiro guru, o mestre espiritual, venha e lhe transmita o conhecimento imortal; você não poderá se tornar iluminado. Se você estiver pronto para perceber a realidade subjacente a todos os objetos do mundo e para descobrir o princípio divino dentro de você; então, para instruí-lo, você necessitará de um mestre verdadeiro, a fonte do mais elevado conhecimento. Para obter o sagrado conhecimento do ser, esse mestre é o mestre universal. Trata-se do próprio Deus que vem guiá-lo a seu objetivo. Ele pode assumir diversas formas. No caso de Arjuna, o mestre divino era Krishna, o avatar daquela era; e Ele começou ensinando a Arjuna o controle dos sentidos.

Você deve dedicar algum tempo para refletir sobre o significado mais profundo de todos estes ensinamentos sobre o controle dos sentidos que foram dados por Krishna a Arjuna, não no ambiente de um ashram, mas no campo de batalha, momentos antes de uma grande batalha para preservar a retidão e para opor as forças da injustiça e da falsidade que haviam se tornado excessivas.

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