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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O livro do Caminho - 25º Capítulo: Ciúme e Ódio – Pragas Gêmeas que Destroem a sua Paz

A divindade é una. Ela é eterna, imutável e perpétua. Ela é o morador interno de todos os corpos. Como o morador interno dos corpos dos seres vivos, ela é chamada de atma, o ser imortal. Como o morador interno do mundo, ela é chamada de Deus. Trata-se da única divindade presente em formas diferentes. Assim como o ser físico pode ser considerado o corpo do atma, assim, também, o mundo pode ser considerado o corpo de Deus.

Encarnações do Amor,

O corpo é impermanente, surge e desaparece; mas o morador interno do corpo permanece o mesmo. Um outro nome para morador interno é atma, o ser imortal, o espírito universal que forma a base de tudo que pode ser nomeado ou expresso em palavras. Trata-se da única entidade permanente e imutável que permeia todo o espaço e toda a matéria, sendo a base de todos os seres vivos. Este ser pode ser chamado de Deus, atma, ou morador interno. O Atma, Deus e o morador interno são exatamente o mesma coisa. Eles são a única divindade.

Descubra o Morador Interno Através da sua Própria Prática Interna

As sagradas escrituras fornecem diretrizes para se buscar e reconhecer o morador interno. No entanto, esses ensinamentos não serão suficientes para conhecê-lo. Você não pode alcançar a divindade meramente estudando as escrituras. Usando as declarações das escrituras como a sua base, você deve fazer um certo esforço para desenvolver a visão interna. As escrituras podem apenas mostrar o caminho. Elas são como placas mostrando a direção. Para alcançar o objetivo, você deve percorrer o trajeto por si mesmo. Seguindo as direções fornecidas, você deve empreender e aderir inabalavelmente a esta viagem sagrada até que o objetivo seja alcançado. Para este propósito, a Gita expôs o caminho.

Na Gita, as direções da jornada começam no décimo primeiro verso do segundo capítulo. Esse é o começo do ensinamento de Krishna. Este ensinamento começa com a regra: não se aflija por aqueles pelos quais não se deve afligir. Por quem não se deve afligir? Qual é a maneira de evitar a aflição? O mestre da Gita declarou que não há motivo para se afligir por coisas que são impermanentes e transitórias. Os corpos e as personalidades são impermanentes e transitórias. Todas as coisas do mundo são impermanentes e transitórias. Krishna disse: "Arjuna, toda a sua aflição é por nada."

As Cinco Características Que a Tudo Compõe

Cada criatura desta miríade de seres que podem ser encontrados neste universo manifestado é composta por cinco características básicas:

1. Cada uma é. Ela existe. Possui a característica de ser.

2. Cada uma brilha com luz interna, possui brilho. Ela está naturalmente viva, com energia.

3. Cada uma tem um propósito mais profundo, uma razão para a sua existência. Ela é querida e é também uma fonte de alegria.

4. Cada uma tem um nome específico, uma categoria ou designação.

5. Cada uma tem uma dada forma, tangível ou sutil. Ela possui uma característica que a distingue.

Assim, estas são as cinco características encontradas em tudo que pode ser descrito. Se tangível ou intangível, uma vez que algo é concebido; nós podemos dizer que este algo existe, brilha, tem uma finalidade, possui um nome e uma forma.

Das cinco, as três primeiras características compõem a verdade eterna que jamais muda. Esta é a realidade permanente. É o atma, é Deus, é o morador interno, é a divindade. Em sânscrito, é conhecida como sat-chit-ananda, significando: existência, consciência e bem-aventurança. Para sat-chit-ananda, não há nascimento e não há morte. Sat-chit-ananda pode ser descrito como a marca ou a assinatura da divindade. As duas características restantes falam do corpo da divindade. O nome e a forma são apenas transitórios e ilusórios. Na verdade, estes são apenas imaginação. Assim, das cinco características básicas que a tudo compõe, três formam a divindade subjacente que jamais muda; as outras duas são os nomes e as formas em mutação que compõem o mundo.

Perceba que todas as criaturas que você vê no mundo são irreais. Todas surgiram em algum momento e partirão em alguma hora no futuro; ou seja, estão sujeitas ao nascimento e à morte. Estes seres podem ser comparados a parentes. Os parentes vêm por um momento para ficar com você e depois vão embora. Eles não ficarão em sua casa permanentemente. Assim como os parentes, a alegria e a tristeza vêm e vão. De maneira similar, tudo que possui nome e forma é impermanente. Para compreender a espiritualidade, você deve perceber que todas as coisas criadas são transitórias e temporárias. Qualquer dia, estas coisas desaparecerão; elas estão sofrendo constante mudança. Afligir-se por coisas que são impermanentes é certamente uma insensatez.

Se deseja compreender as três qualidades básicas permanentes, você deve desenvolver determinadas características e virtudes nobres. Como foi declarado por Krishna no capítulo sobre devoção, o aspirante que alcançou as 26 qualidades nobres é muito querido ao Senhor. Mas não há necessidade possuir todas as 26 qualidades. Numa caixa de fósforos, você encontrará um grande número palitos. Caso deseje fogo, você não tem que riscar todos os palitos; somente um precisa ser riscado para fornecer todo o fogo que você deseja. Se desenvolver uma ou duas destas virtudes de maneira completa em você, então as outras também irão se desenvolver por conta própria. Contudo, estas devem se tornar uma parte indelével e integral de seu ser antes que você possa esperar compreender o princípio do atma. Lutando para adquirir estas virtudes, você encontrará determinadas qualidades negativas em seu interior. São seus inimigos internos. Eles tentarão evitar que você manifeste estas qualidades virtuosas.

Ciúme e Ódio

No capítulo anterior, foram discutidas as virtudes da tolerância e da paciência. Agora, nós analisaremos seus males opostos: o ciúme e o ódio. O ciúme e o ódio são ladrões gêmeos. Um não pode viver sem a companhia do outro. Há um relacionamento inextricável entre eles. Eles sempre irão se resguardar um no outro. O ódio pode ser comparado a uma peste subterrânea e o ciúme pode ser comparado a uma peste acima da terra. Juntos, eles podem destruir uma árvore. Imagine uma árvore muito verde, florescendo, produzindo frutos e muito atraente de se ver. Quando as pestes entram nesta árvore, a mesma irá secar em poucos dias. Uma das pestes irá aos galhos e às folhas que estão acima, enquanto a outra atacará as raízes embaixo. Enquanto uma estraga a beleza, a outra tentará destruir a própria vida da árvore. Estas pragas serão sempre companheiras.

Assim também é com o ciúme e o ódio. Onde quer que haja ciúme, lá estará também o ódio. E, sempre que o ódio estiver visível, você encontrará o ciúme espreitando invisivelmente por trás. O ódio assume uma determinada forma. Este se manifesta de várias maneiras. O ciúme não possui forma alguma, permanece escondido abaixo da superfície. Foi dito que não há pessoa alguma no mundo que não sofra de um pouco de ciúme; em qualquer pessoa, haverá ao menos uma pequena tendência ao ciúme. Para se certificar de que este ciúme e este ódio não entrem em seu sistema, você deve desenvolver o amor abnegado. Onde há um amor sem ego, não há lugar algum para o ciúme e o ódio entrarem e se apoderarem. Quando o ciúme e o ódio são mantidos longe, você pode ter a experiência do júbilo divino.

A beleza é uma forma de felicidade. Onde quer que haja beleza, você também encontrará alegria. Algo belo é sempre uma alegria. O que é beleza? O mundo fornece beleza a algo ou esta beleza já é inerente ao objeto? Nós vimos como todas as coisas sofrem mudança. Considerando todas estas coisas mutáveis, por quanto tempo podem permanecer belas? Somente o que é permanente pode ser belo. A única entidade permanente é Deus; assim, somente Deus é belo. Não há nada no mundo que seja mais belo do que Deus. O dever mais importante de um devoto é beber o néctar de júbilo que emana dessa beleza. Para absorver e preencher-se com esta divindade tão cheia de beleza, há a necessidade de adquirir determinadas virtudes. A fim desenvolver estas virtudes, você terá que destruir as fraquezas e as falhas que se inflamam dentro de você.

Tendo Ciúme da Divindade

O ciúme pode até mesmo surgir em seu relacionamento com a divindade. Trata-se de uma forma de arrogância onde você tem mais consideração por si do que pelo Senhor e fica com ciúmes da atenção indevida que sente que lhe está sendo dada por Ele. Há um exemplo disto no Mahabharata, o grande épico que narra a guerra entre as forças da retidão e as forças do mal. Nesse épico, Arjuna lutou ao lado do bem e o Senhor Krishna era o seu cocheiro. Durante essa grande guerra, Arjuna ficava sentado na carruagem atrás de Krishna, que era quem a dirigia. Momentos antes da guerra, Arjuna ouviu todos os ensinamentos que compõem a Gita sendo explicados e expostos por Krishna; mas ele ainda não estava inteiramente pronto a praticá-los. Ele sentiu que Krishna era uma pessoa maravilhosa, um mestre divino, mas ele não era capaz de compreender a completa divindade do Senhor.

A grande guerra continuava e algumas das mais terríveis armas eram empregadas no campo de batalha. Num determinado dia, Arjuna lutava contra o avô, Bhishma, que era o generalíssimo do lado oposto e considerado maior guerreiro daquela época. Durante essa luta, vários mísseis poderosos e terríveis atirados por Bhishma entraram na carruagem de Arjuna, mas não lhe causaram dano algum. Arjuna lutou brilhantemente o dia inteiro, empunhando habilidosamente seu arco enquanto dirigia a carruagem usando seus pés para pressioná-los contra os ombros de Krishna que iria, desse modo, dirigir os cavalos a fim de volver a carruagem para a direita ou esquerda.

A fúria da batalha não decrescia e nenhum dos lados ganhava superioridade até que, finalmente, ao fim do dia, Bhishma desmaiou em sua carruagem e saiu de cena. Nessa hora, Arjuna, esgotado mas triunfante, soprou sua concha para proclamar a vitória na luta em que tinha se engajado nesse dia. Arjuna, certamente, teve fé na divindade; mas, naquele momento, ele também se sentiu um pouco arrogante. Naquele momento de glória, ele sentiu ser o responsável pela vitória e que, apesar de tudo, Krishna não tinha lutado, mas apenas dirigido a carruagem.

Foi após o Sol se pôr que eles volveram a carruagem em direção ao lar. Assim que a carruagem alcançou o acampamento dos Pandavas, Krishna parou a certa distância da barraca, se voltou para Arjuna e disse: "Arjuna, por favor, desça e entre na barraca." Arjuna, que estava um pouco ensoberbado, pensou consigo: 'eu lutei e venci a batalha hoje. Krishna era apenas o cocheiro orientado por mim. Particularmente falando, Ele deveria descer primeiro e abrir a porta para mim. Esse seria o protocolo correto.' E, assim, Arjuna disse a Krishna: "Eu penso que você deveria descer primeiro." No entanto, Krishna insistiu: "Não, Arjuna, desça primeiro." Enquanto isso continuava, Arjuna desenvolveu alguns pensamentos negros e começou a sentir um certo ressentimento em relação a Krishna.

Arjuna disse a si mesmo: 'Até aqui, eu tenho pensado que Krishna é tão eminente e, certamente, por eu tê-Lo elogiado e expressado minha admiração, Ele está agindo assim agora, se considerando mais importante. Bem, trata-se de minha própria falta. Mas a guerra ainda continua, deve ser travada e eu preciso de Krishna. Assim, seria melhor se eu não desenvolvesse qualquer sentimento desgastante entre nós. Discutir com Ele agora, certamente, não seria do interesse de ninguém.' Dessa forma, muito relutantemente, Arjuna desceu da carruagem. Depois de descer, ele ficou perto da carruagem. Krishna continuou pressionando Arjuna: "Não fique ai. Entre na barraca." Sem qualquer alternativa, Arjuna entrou na barraca. Krishna pulou de imediato, saltando para longe da carruagem. No momento em que Krishna saiu, a carruagem inteira explodiu e foi reduzida a cinzas.

A Divindade Jamais Possui Motivo Egoísta

Arjuna e Dharmaraja, seu irmão mais velho, ambos observando de longe, ficaram pasmos. Arjuna perguntou a Krishna: "O que acabou de acontecer aqui? O que foi responsável por este espetáculo?" Krishna respondeu: "Arjuna, ninguém compreende Minhas ações. Com relação à divindade, nunca há qualquer presunção ou egoísmo. A proteção de Meus devotos é Meu único interesse. O benefício e o incentivo de Meus devotos é o Meu único desejo. Eu mantive todas aquelas terríveis armas, que foram usadas por Bhishma e tinham entrado na carruagem, inofensivamente sob Meu pé. Enquanto Eu as mantinha sob Meu pé, elas não podiam exercer seus poderes sobre você. Se Eu descesse primeiro, estas armas iriam destrui-lo junto com a carruagem. Você seria reduzido a cinzas. Inconsciente disto, você pediu que Eu descesse primeiro."

No momento em que Arjuna ouviu estas palavras de Krishna, ele percebeu seu próprio comportamento arrogante e ignorante. Ele exibia todos os sinais de ciúme. Encontrar faltas na divindade e pensar ser maior do que Krishna pode ser visto como uma forma de ciúme.

Há vários indícios importantes do ciúme. O ciúme aparece quando você se encontra com uma pessoa que obteve uma fama maior do que a sua. Ou este irá se desenvolver quando uma pessoa possui mais riquezas do que você. O ciúme também aparecerá quando você se encontrar na presença de uma pessoa mais bonita e elegante. Para o estudante, o ciúme aparecerá logo que houver um outro estudante que possua notas mais altas do que as dele. Desenvolver ciúme ao entrar em contato com pessoas que os superem em termos de riqueza, posição, beleza, inteligência e outras qualidades é uma fraqueza dos seres humanos medíocres.

O ciúme não viverá em você sem prejudicá-lo. No momento em que o ciúme entra, todas as virtudes que você cultivou por longo tempo, todas as grandes qualidades você desenvolveu são destruídas. O ciúme arruina a natureza humana, fortalece a natureza animal e promove a natureza demoníaca. O ciúme não possui qualquer escrúpulo. O ciúme não olha para a frente ou para trás. Trata-se de uma qualidade tão insidiosa que você deve cuidar para que esta nunca se apodere de você. Aprecie a prosperidade das outras pessoas. Aprecie o progresso das outras pessoas. Aprecie o bem-estar dos outros. Aprecie a beleza das outras pessoas. Esta é a verdadeira virtude. Este é um dos ensinamentos mais importantes da Gita. Desejar o bem dos demais é uma qualidade louvável que todos devem possuir.

Domine o Ciúme e Você Poderá Conquistar Qualquer Coisa

Há uma antiga estória de uma devota que tinha a reputação de ser completamente equânime e livre de ciúme. Até mesmo seu nome significava 'sem ciúme'. Quando os três aspectos da divindade – Brahma, Vishnu e Shiva – os aspectos divinos de criação, preservação e destruição, vieram testá-la: sua extrema pureza de coração pode subjugá-los e transformá-los em pequenos bebês. Ela se tornou como uma mãe para Eles. Diante dela, Eles permaneciam alegremente aninhados em seus braços.

Os três aspectos da divindade representam também as três qualidades da natureza – a ativa, a passiva e a cíclica – que governam toda a vida fenomenal no mundo. Estas três qualidades formam nossas experiências no mundo e os três aspectos da divindade são o substrato destas qualidades. Portanto, o significado mais profundo desta estória é: quando você estiver livre do ciúme, tudo no mundo será como um bebê em seus braços. Você será a mãe, tudo buscará e irá atrás de você. Na verdade, uma vez livre do ciúme, você poderá conquistar qualquer coisa.

Contudo, não se pode enfatizar demasiadamente o fato que, ao possuir ciúme, este irá destruir todas as suas boas qualidades. Você pode pensar que o ciúme irá destruir as outras pessoas; mas, de fato, este irá destruir você, não os outros. O ciúme fará de você uma pessoa doente. Você não poderá dormir bem. Você não poderá comer bem. Mesmo sendo totalmente saudável, uma vez que o ciúme tome conta de você, ele fará com que todos os tipos de doenças físicas se manifestem em você. É como um consumo interior. Assim como a tuberculose entra lentamente e o consome, assim também o ciúme o enfraquece sem você perceber. Este pode entrar em você de várias formas e, por fim, irá destrui-lo.

O ciúme é uma doença viciosa a qual não se deve permitir obter um ponto de apoio em você. Você deve sentir que Deus irá sempre abençoá-lo com graça. Mesmo que você esteja numa posição abaixo do que pensa merecer, você deve ter prazer com a felicidade das outras pessoas. Você deve ficar contente por ouvir as realizações delas e não se sentir triste apenas porque elas possuem coisas que você não tem. O ciúme está em toda parte nesta era imoral. Este prevalece em todos os tipos de pessoas, tenham elas inclinação pelo mundo ou pela espiritualidade. Na maior parte das vezes, é por causa do ciúme que as pessoas perdem a paz mental e desperdiçam suas vidas. Junto com o ciúme, a calúnia e o ódio logo aparecem de maneira horrenda. Se você for o alvo destas más qualidades manifestadas em outras pessoas, sua melhor proteção é a grande virtude da paciência. Eis aqui uma pequena história.

A Paciência Superará o Ódio

Buddha andava pela zona rural pedindo esmolas. Ele estava se aproximando de uma vila. Muitas pessoas nessa vila tinham uma grande afeição por Buddha. Contudo, logo antes de alcançar os limites da vila, alguns jovens arruaceiros que vadiavam pela estrada começaram a escarnecer dele. Um pouco surpreso com esta recepção, Buddha parou e sentou numa rocha. Ele lhes disse: "Bem, cavalheiros, que prazer vocês obtêm ao me criticar?" Sem fornecer razão alguma, eles aumentaram a acusação a Buddha. Buddha disse: "Continuem por quanto tempo vocês desejarem." Eles o repreenderam e o insultaram a um ponto onde eles se cansaram de suas próprias criticas. A paciência de Buddha era tão bem desenvolvida que o ódio deles não podia tocá-lo. De início, eles estavam se divertindo; mas, por fim, tendo se exaurido sem obter a reação que desejavam, eles decidiram partir.

Quando estavam indo embora, Buddha os chamou: "Filhos, eu quero lhes dizer algo. Na vila logo além daqui, há muitas pessoas que me amam muito. Se ouvissem as acusações que vocês me fizeram de maneira tão vil, elas iriam fazer vocês em pedaços. A fim de salvá-los desse perigo, eu permaneci aqui nesta rocha e permiti que vocês me criticassem. Dessa maneira, eu lhes dei um presente. Sem gastar um único centavo, sem fazer qualquer esforço, eu pude lhes proporcionar tanta diversão permitindo que vocês me repreendessem. Ao invés de me sentir triste com suas críticas, eu estou contente por ter-lhes dado alguma alegria e tê-los poupado de sério dano."

Em seguida, Buddha lhes explicou ainda um outro ponto importante de forma a fazer uma impressão indelével nos corações dos jovens. "Suponha que um pobre monge vá a casa de vocês pedir esmolas. Vocês lhe oferecem algum alimento. No entanto, suponha que o tipo de alimento que vocês o oferecem é ritualmente impuro e inaceitável para o monge. O que acontecerá então? Uma vez que ele não aceitou a oferta, vocês terão que tomar esta oferenda de volta e esta permanecerá com vocês. Do mesmo modo, vocês estão me oferecendo toda esta desaprovação. Estas são as esmolas que vocês estão tentando me dar. Mas eu não aceitei suas ofertas. Bem, então, vocês terão que guardá-las; estas ofertas permanecerão com vocês. Assim, vejam vocês, todas as suas críticas, na verdade, estão sendo apenas direcionadas de volta a vocês mesmos. Vocês não estão me criticando de forma alguma!"

Uma pessoa pode mandar uma carta registrada a um amigo pelo correio. Se o amigo não aceitar esta carta registada, o que o departamento postal fará com ela? O correio mandará a carta de volta à pessoa que a enviou. Se você estiver criticando alguém, mas esta pessoa não aceitar as suas críticas; então, inevitavelmente, as críticas voltam a você. Não pense que exprimindo o ciúme e o ódio que possa estar sentindo, você estará incomodando às pessoas a quem estes sentimentos odiosos são dirigidos. Na verdade, você estará incomodando apenas a si mesmo. O ciúme e o ódio criarão grandes dificuldades às pessoas que estiverem infectadas por estes sentimentos. O ciúme e o ódio surgem do egoísmo. Eis aqui um pequeno exemplo.

Por Trás do Ciúme e do Ódio Está o Egoísmo

Havia um devotado religioso que tinha grande alegria em cultivar um jardim cheio de belas flores e frutas. Mesmo tendo se firmado no conhecimento espiritual, ele tinha desenvolvido um forte traço de egoísmo em seu interior. No momento em que o egoísmo se desenvolveu, também surgiu o ciúme. Quando o egoísmo e o ciúme surgem, o ódio automaticamente se junta a eles. Deus teve um interesse pessoal por este devoto errante. Deus viu que esta pessoa, embora possuísse exteriormente todos os peculiares ornamentos religiosos, não obstante, tinha o coração cheio de veneno. Deus decidiu corrigi-lo ensinando-lhe uma lição. O Senhor se manifestou na forma de um velho mendigo e deu uma volta por aquele jardim.

O velho mendigo foi a uma árvore recentemente plantada e exaltou bastante a beleza dessa árvore. Observando que o proprietário do jardim estava próximo, ele perguntou: "Quem é o jardineiro responsável por cultivar uma árvore tão bela?" O orgulhoso proprietário ensoberbou-se e disse: "Senhor, fui eu quem cultivou todo este jardim. Eu cultivei esta árvore e também todas as demais árvores que o senhor vê aqui. Por meus próprios esforços, eu criei todas estas agradáveis trilhas e fiz este belo jardim. Eu, sozinho, cuido de tudo aqui. Não há um jardineiro contratado. Sou eu quem puxa a água. Eu espalho o adubo. Eu arranco as ervas daninhas e removo as pestes. Eu limpo as trilhas. Eu estou criando estas belas flores e frutos, fazendo todas estas coisas para dar alegria às outras pessoas." Desta maneira, ele foi repetindo eu... eu... eu.

Parecendo apreciar a beleza do jardim, o velho mendigo continuou lá durante algum tempo. Enquanto isso, o proprietário se ocupava cuidando de seu jardim ali por perto. Após um tempo, o mendigo foi embora. Pouco depois, uma vaca entra no jardim. Ela estava tão fraca que estava a ponto de cair e destruir as plantas que estavam logo abaixo de seu corpo. O proprietário viu que esta vaca estava a ponto de estragar seu belo jardim. Assim, ele pegou uma pequena vara e a jogou na vaca para enxotá-la. Mas, no momento em que a vara tocou na vaca, ela caiu morta. Agora, na religião dele, as vacas eram consideradas muito sagradas e nunca deviam ser molestadas ou machucadas. Tendo jogado uma vara por meio da qual a vaca caiu morta, agora, ele teria que sofrer o grande de pecado de ter matado uma vaca. Ele estava consternado com esta terrível reviravolta de eventos.

Pouco depois, o mesmo velho mendigo voltou ao jardim. Andando ao longo da trilha onde a vaca estava, ele a viu morta e ficou chocado. Ele procurou o proprietário e o incitou a vir ao local rapidamente. O mendigo perguntou: "Quem matou esta vaca? Quem cometeu este ultraje?" Como o proprietário não respondeu de imediato, o velho mendigo perguntou mais diretamente: "Diga-me: você sabe quem matou esta vaca?" O proprietário respondeu: "Certamente, foi a vontade de Deus. Sem a vontade do Senhor, ela morreria dessa forma? A menos que tivesse que morrer, cairia ela morta só pelo fato de uma pequena vara tê-la encostado?"

Ao ouvir isto, o velho mendigo disse ao homem: "Anteriormente, você me havia dito como, sozinho, foi o responsável por plantar todo este jardim; como, sem ninguém, plantou e cuidou de todas estas plantas e fez todas as trilhas. Você estava tomando crédito por todas as coisas boas que aconteceram aqui. No entanto, por qualquer coisa errada e de mau agouro, você põe a culpa em Deus. Você é um arrogante, um tolo que só serve a si mesmo, tão cheio de sua própria importância que não reconhece nem mesmo a mão do Criador em gerar toda a beleza que está aqui. Você está tomando por crédito próprio aquilo que pertence a Deus. Você tem até mesmo ciúme de Deus. Se não fosse pela vontade de Deus, não haveria coisa alguma em seu jardim."

Neste momento, o velho mendigo revelou sua verdadeira identidade. Ele disse: "Eu sou o próprio Senhor. Eu vim destruir o seu egoísmo." Arrependido, o devoto errante caiu aos pés do Senhor. O devoto percebeu como o ego havia entrado furtivamente em seu interior, feito uma base de apoio e, depois, se apossado completamente dele. Nessa hora, ele compreendeu o significado mais profundo dos ensinamentos espirituais dos quais estava falando por tanto tempo. Ele percebeu que tudo está saturado de divindade e, conseqüentemente, que deveria ver a divindade em toda parte e viver a sua vida com o conhecimento de que, no menor dos detalhes, tudo está sob o controle da divindade.

Destrua o Egoísmo, o Ciúme e o Ódio por meio do Amor e da Paciência

Você deve ter cuidado para não desenvolver o egoísmo e os seus cúmplices: o ódio e o ciúme. Uma vez que estes se enraízem em você, será muito difícil erradicá-los. Ao se tornar infestado por estas más qualidades, você pode não ser tão afortunado como este devoto e obter a atenção do Senhor tão diretamente para ajudá-lo a erradicá-las. Você não poderá eliminar o ciúme apenas lendo as escrituras ou se engajando em rituais espirituais. No entanto, fazendo um esforço determinado para transformar os seus pensamentos e desenvolver o amor abnegado; você pode destruir esta praga. Ofereça todos os seus pensamentos negativos aos pés do Senhor e preencha-se com o amor e a paciência inabaláveis.

Enquanto possuir ciúme, você nunca poderá brilhar. Todas as suas grandes virtudes desaparecerão. A Gita ensinou que a prática espiritual inicial consiste em desenvolver virtudes ideais e aplicá-las em sua vida diária. Desta forma, você cria circunstâncias favoráveis a si mesmo. Ao levar uma vida virtuosa, você poderá experimentar o princípio do atma. Contudo, se você não desenvolver as grandes qualidades e não as aplicar em sua vida diária; você jamais será capaz de perceber a divindade.

A luz do atma está em toda parte. Esta luz não está limitada a alguma pessoa ou a alguma forma. Esta luz brilha como um resplendor que enche todo o universo. Ela pode assumir qualquer forma e qualquer nome. Trata-se da própria base de cada nome e de cada forma. Tomem, por exemplo, a luz que emana de um bulbo; ou a brisa que você obtém de um ventilador; ou o calor que você obtém de um forno elétrico; ou o trabalho que você obtém de um motor elétrico. Os efeitos são todos diferentes. O trabalho feito pelo motor é diferente da brisa obtida pelo ventilador. A luz obtida do bulbo é diferente do alimento preparado no forno. Os efeitos são diferentes, as máquinas são diferentes; mas, passando por todas estas máquinas, está a mesma corrente elétrica. O mesmo é verdadeiro para o princípio do atma. Em corpos distintos, ele se manifesta de forma diferente; mas, por trás, há a mesma unidade.

A luminosidade da luz elétrica é proporcional à corrente que flui no bulbo. A luz que resplandece do bulbo pode ser comparada ao resplendor atmico que brilha nos indivíduos. A luz não possui contorno ou forma, mas os bulbos vêm em várias formas e intensidades. Um bulbo incandescente tem uma determinada forma, uma luz fluorescente tem uma forma diferente. O bulbo da sala de jantar pode ser muito brilhante; o bulbo do quarto de dormir pode ser bem mais fraco. Devido à ignorância, você pode imaginar: se o mesmo tipo de corrente elétrica energiza o bulbo do quarto e o da sala, por que deveria haver uma diferença na luminosidade? A diferença surge por causa dos bulbos.

Do mesmo modo, há uma diferença na expressão do amor nos vários corações. Se seu amor for benéfico, pleno e completo: você poderá manifestar a plenitude do esplendoratmico e resplandecer. Se você tiver um amor egoísta e restrito, este poderá ser comparado ao fraco bulbo do quarto de dormir. Não é um problema de corrente, o potencial para fornecer qualquer quantidade de corrente está pronto e disponível. Você deve mudar o bulbo a fim obter uma luz mais forte. Se você está cheio de ciúme, então a potência da luz será muito pequena. Se você tiver o brilho do amor abnegado, então a potência será algo como um bulbo de 1000 watts. Portanto, desenvolva seu amor. Só com o auxílio do amor é possível reconhecer a divindade.

Você Pode Experimentar Deus Somente Através do Amor

A fim de ver a Lua, não há necessidade de iluminá-la com um holofote. Você pode ver a Lua através da própria luz da Lua. Se você deseja ver e perceber Deus, que é sempre o próprio amor; então, você poderá vê-Lo somente através do amor. É impossível vê-Lo se você estiver cheio de ódio. O ódio é o oposto do amor. O ódio é algo como a cegueira.

Não importando a potência da luz com que você ilumine um homem cego, ele não poderá ver essa luz. Enquanto você possuir más qualidades, a divindade, que está muito próxima, não será percebida. Quando estiver livre do ciúme, do egoísmo e do ódio, você será capaz de experimentar diretamente o esplendor da divindade. Uma pessoa que abriu seu olho da sabedoria resplandecerá com a presença de Deus. Uma pessoa que fechou seus olhos por meio da ignorância não estará ciente de Deus. Fechando seus olhos, você terá que procurar por toda parte por uma toalha que pode estar bem acima de você numa prateleira, muito perto. Se abrir seus olhos, você será capaz de colocar sua mão diretamente nesta toalha. A pessoa sábia, cujos os olhos estão abertos para a divindade e que não está encoberta pela ignorância, percebe Deus diretamente e O alcança.

Você se torna sábio ao exalar a fragrância das virtudes. Mas, se você está saturado de más qualidades, de dúvidas e de todos os tipos de ciúme e ódio; você não será capaz de compreender coisa alguma. Por isso se disse: 'a morte é mais doce do que a cegueira da ignorância.' Você deve se livrar da ignorância. O ciúme é um mal que desenvolve essa ignorância. Portanto, os estudantes, que têm os corações bastante delicados, que possuem um futuro brilhante diante deles e muito progresso a fazer, nunca devem dar lugar ao ciúme.

Se alguma pessoa em sua classe obtém uma nota proeminente, você não deve sucumbir ao ciúme. Você também pode trabalhar para alcançar uma nota alta. Se não conseguiu boa nota e, além disso, sentiu ciúmes; então, você estará cometendo dois erros. Em primeiro lugar, você não estudou adequadamente; caso contrário, você teria se saído melhor. E, em segundo lugar, você obscureceu seu coração com o ciúme. Em seguida, choramingar é o seu terceiro erro. Você não deve desenvolver estas más qualidades que, certamente, irão lhe causar muitos problemas. Essas más qualidades podem até mesmo destruir toda uma família que anteriormente estava feliz desfrutando todas as benesses da vida.

O Ciúme e o Ódio Destroem Aqueles que os Possuem

Ao explicar estes princípios a Arjuna, Krishna disse: "Considerando seus perversos primos, os cem irmãos que têm planejado destruir a alegria e a felicidade dos Pandavas; as más qualidades deles incentivaram a execução de todas as más ações. As pessoas que são ciumentas atraem pessoas más para a companhia delas. Estes primos têm com eles o tio perverso que os incentivou na inimizade contra os Pandavas. Ele é cheio de ciúme. Todas estas pessoas são cegas. Assim como o pai deles é fisicamente cego, todos os cem irmãos são mentalmente cegos. Eles se juntam e se completam mutuamente. No entanto, Arjuna, você pode estar certo de que as más qualidades destas pessoas irão destrui-las." Como Krishna previu, nem mesmo um destes cem irmãos sobreviveu à guerra para executar os ritos funerários dos pais. Esta é a grande tragédia de cair vítima do ódio e do ciúme.

Se quiser realmente compreender a Gita, então você deve começar desenvolvendo todas as boas qualidades e virtudes que foram discutidas. Uma vez que estas boas qualidades façam parte de você, você poderá experimentar diretamente a divindade.

Qualquer coisa que você deseje pode ser obtida de uma árvore dos desejos. A Gita é tal árvore dos desejos. A Gita irá lhe conceder o que quer que você esteja pronto para receber. Esta irá lhe proporcionar o nível de entendimento que reflete seus próprios desejos particulares. Nesta era, as pessoas estão interpretando a Gita incorretamente; pois elas estão cheias de muitos desejos errôneos. Assim, a Gita tem sido de pouca utilidade para essas pessoas. Mas, se você desenvolver sua virtude e encher-se de amor; então, a elevada mensagem da Gita brilhará em você e irá inspirá-lo a alcançar a divindade. Alcançar a divindade é seu direito de nascença. Trata-se da sua realidade imutável, da sua verdade imortal.

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