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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O livro do Caminho - 26º Capítulo: Verdade e Bom Caráter – O Próprio Alento da Vida

Krishna disse: "Onde quer que haja um comportamento exemplar; onde quer que haja retidão e santidade; onde quer que haja adesão ao dever e à verdade, lá estará a vitória. Ao se conduzir de uma maneira honrosa, ao viver para os princípios da conduta reta; esses próprios princípios irão protegê-lo, Arjuna! Viva sempre uma vida sagrada e honrosa. Assim, você estará tendo uma vida de real valor."

Encarnações do amor,

Há sete aspectos para se viver uma vida sagrada que são como as sete cores contidas nos raios do sol. Esses aspectos compõem os padrões do comportamento virtuoso e da excelência moral, que são a própria estrutura da vida espiritual. O primeiro aspecto é a verdade. O segundo aspecto é o bom caráter. O terceiro é a conduta reta. O quarto, o controle dos sentidos. O quinto é viver conscientemente com ênfase no limite aos desejos. O sexto é a renúncia ou o desapego. E o sétimo, a não-violência. Todos estes princípios da vida correta foram colocados para a proteção do indivíduo e para o bem-estar da sociedade. Juntos, todos estes princípios são conhecidos como dharma ou retidão.

Verdade e Dharma

A verdade é a própria base da retidão. Assim como queimar é natural ao fogo; assim como resfriar é natural ao gelo; assim como exalar fragrância é natural a uma flor; e, assim como a doçura é natural ao açúcar; assim, também, a verdade compõe a natureza de um ser humano. A verdade e o bom caráter são o seu próprio alento vital. Ao reconhecer a verdade inata de sua natureza essencial, então você compreende a sua própria realidade.

Para obter sucesso no campo da espiritualidade, o bom caráter é essencial. O bom caráter pode ser descrito como possuindo três aspectos. O primeiro aspecto é mais bem explicado pelas palavras santidade e bondade. O segundo aspecto é mais bem descrito pelas palavras tolerância, compaixão e paciência. E o terceiro aspecto é dado pelas palavras resolução, determinação e compromisso.

Seja qual for a educação que você tenha recebido, não importando quão rico você possa ser, não importando a posição que ocupe, seja você um grande erudito ou um homem de estado; sem possuir estes três aspectos de caráter, você é tão útil quanto um homem morto. Tendo obtido seja lá o que for, sem estes três aspectos de caráter, todas as suas realizações e conquistas serão sem valor. As pessoas podem prestar atenção à beleza humana externa, mas Deus reconhece apenas a beleza interna. Na verdade, é o excelente caráter que compõe a verdadeira beleza dos seres humanos. Uma pessoa destituída de bom caráter não é mais do que uma pedra. Você deve seguir estes sete aspectos do dharma e permitir que cada um destes brilhe em você, pois cada um destes aspectos lhe é totalmente natural.

A verdade é o primeiro degrau. A verdade não significa simplesmente abster-se de mentir. Você deve tomar a verdade como a sua própria essência, como a base de sua vida. Você deve estar preparado para renunciar a tudo em prol da verdade. O mundo se conduz por temor à verdade e a esta sempre é subserviente. Quando não há verdade, o homem desenvolve o medo e se torna por demais assustado, até mesmo para viver. Por outro lado, a verdade confere destemor ao homem. A verdade protege o mundo inteiro e faz com que este funcione. A verdade afasta todo o medo. Somente ao estar observando esta importante qualidade sem deslizes, você será capaz de alcançar a divindade. O caráter é o alento da verdade. A virtude e o bom comportamento são importantes para o caráter. A humanidade não resplandecerá sem o bom comportamento. As virtudes, as boas qualidades, o bom comportamento, tudo isso dá esplendor à humanidade.

A Verdade Precisa Ser Estabelecida Desde Idade Precoce

Para servir à humanidade e perceber a sua divindade inata, você deve tomar como base a verdade, o caráter e o bom comportamento. Desde a infância, faça os esforços necessários para se estabelecer nestas nobres virtudes. Cedo, na vida, as crianças provavelmente cometerão uma série de pequenos erros, consciente ou inconscientemente. Temendo que estes erros se tornem conhecidos por parte dos mais velhos e que possa haver alguma punição ou desaprovação, as crianças tentarão esconder seus erros.

Desta forma, desde idade precoce, há uma tendência da criança desviar-se da verdade a fim de evitar a culpa. Eventualmente, este hábito destruirá a própria base da vida. A mentira destruirá a humanidade da pessoa. Portanto, as crianças devem ser enfaticamente incentivadas a dizer sempre a verdade, não importando como, sem temer as conseqüências; sejam estas verdades alegres e lucrativas para a criança ou resultem estas em castigo e punição. Assim como o alicerce é muito importante para uma mansão, assim como a raiz é a própria base de uma árvore; do mesmo modo, a verdade é a própria base da vida de um ser humano.

Se você oscila na verdade, não haverá segurança nem proteção em sua vida. Um exemplo de estrita adesão à verdade pode ser percebido na vida de um grande rei da antigüidade. Por causa de sua firmeza na verdade, ele foi forçado pelas circunstâncias a deixar sua esposa, seu filho e seu reino. Ele considerava a verdade como a sua penitência. Mesmo quando as situações mais difíceis o assaltavam, ele não estava preparado para mentir ou desviar-se do dharma. Eventualmente, ele perdeu seu reino. Banido e sozinho, ele conseguiu um trabalho num crematório. Quando o filho dele morreu, a esposa trouxe o corpo ao campo de cremação. Embora ele soubesse que se tratava de sua esposa e que o corpo era o de seu filho; ainda assim, ele se sentiu obrigado à execução de seu dever como a pessoa encarregada do campo de cremação. Sob os testes mais difíceis, este rei jamais desistiu de dizer a verdade ou de seguir o dharma. Ele considerava a verdade e o dharma como os dois olhos, ou como as duas rodas de uma carruagem, ou como as duas asas de um pássaro, cada uma indispensável a outra.

Mesmo Uma Pequena Mentira Pode Levar à Infelicidade Mais Tarde

Desde muito cedo, é incumbência dos mais velhos ensinar às crianças a importância de dizer a verdade. Eis aqui um pequeno exemplo para mostrar como inventar estórias para estontear uma criancinha, de brincadeira, pode produzir conseqüências infelizes para ela. Certa vez, um pai desejou dar um presente especial a seu filho no dia do aniversário do menino. Devido ao amor que ele sentia por seu filho, este pai deu ao garoto uma moeda de ouro e pediu que ele a levasse a sua mãe e fizesse um anel desta moeda. No dia seguinte, o filho tinha suas provas; ele manteve a moeda de ouro na mesa onde estava estudando.

Agora, este menino tinha uma irmã mais nova que era muito curiosa e travessa. Ela entrou no quarto e viu a moeda de ouro. Pegando a moeda na mão, ela perguntou: "Irmão, o que é isto?" Ele disse: "É uma moeda de ouro." Ela perguntou: "Onde você a obteve?" Brincando, ele disse: "Bem, ela cresceu numa árvore." "Como poderia esta moeda de ouro crescer numa árvore?", perguntou a irmã pequena. Então, ele inventou uma estória e prosseguiu dizendo a ela uma porção de lorotas. Ele disse: "Se você tratar esta moeda como uma semente, e semeá-la na terra, e regá-la com água, e zelar por ela, e protegê-la; uma árvore logo surgirá. Então, desta árvore, você poderá obter muito mais moedas de ouro."

Ela começou a fazer mais perguntas, mas ele disse: "Escuta, eu não tenho tempo para conversar agora. Eu tenho que estudar. Pergunte-me mais tarde." Vendo que ele estava ocupado, ela aproveitou a oportunidade para embolsar a moeda de ouro e saiu. De lá, ela foi ao jardim e cavou um pequeno buraco. Ela colocou a moeda de ouro no fundo, cobriu-a com terra e regou-a com água. Durante todo o tempo, ela estava pensando no que seu irmão lhe havia dito – como uma árvore cresceria de uma moeda de ouro se esta fosse plantada.

Uma criada que observava a pequena menina de uma janela viu-a colocar a moeda de ouro no buraco. Quando esta menininha foi para dentro de casa, a empregada escavou o buraco e pegou a moeda. Após algum tempo, a mãe veio pedir que o filho se aprontasse para ir à escola. Ele desejava entregar a moeda a sua mãe de modo que ela fizesse um anel para ele, como seu pai havia sugerido. Mas o menino não podia encontrar a moeda de ouro em lugar algum. Ele foi a sua irmã mais nova e perguntou se ela tinha visto a moeda. Ela disse: "Irmão, eu pensei que, se pudéssemos plantar uma árvore com essa moeda, nós poderíamos obter lotes de moedas como aquela; assim, eu a plantei num buraco que fiz no jardim." Eles foram ao lugar e cavaram, mas a moeda não foi encontrada.

O menino estava muito aflito agora. No dia de seu aniversário, quando deveria estar muito feliz; ele estava chorando. Ele contou tudo à mãe. Sua mãe perguntou: "Mas, filho, diga-me por que a sua irmã pegou a moeda de ouro e a enterrou no jardim?" O menino não sabia. Assim, a menina foi chamada e perguntaram porque ela tinha feito aquilo. Ela disse: "Meu irmão me explicou como a moeda se transformaria numa árvore de moedas de ouro; assim, eu fiz como ele falou." A mãe disse ao menino: "Por você ter inventado esta estória e mentido conscientemente a sua pequena irmã, a conseqüência disso é: em vez de estar feliz e aproveitando seu aniversário, você está chorando. E não é só isso, você também perdeu a moeda de ouro que seu pai lhe deu."

Se permitirem que as crianças digam e abriguem mentiras em idade precoce, este hábito crescerá e crescerá com os anos. Por outro lado, se você ensiná-las, desde os primeiros anos, a fazer da verdade a base de suas vidas; elas crescerão em caráter e serão capazes de conquistar muitas coisas grandiosas.

Quando uma Má Qualidade Se Vai, as Demais Não Podem Permanecer por Muito Tempo

Certa vez, havia um grande mestre que ajudava muitas pessoas a se desenvolverem na espiritualidade. Sempre que alguém vinha a ele para ser iniciado, ele costumava indagar sobre o comportamento e o caráter da pessoa para determinar que tipo de qualidades ela tinha. De acordo com as qualidades e o estágio de evolução da pessoa, ele iria dar, então, uma fórmula sagrada, um mantra. Um ladrão, após ter reconhecido este mestre como sendo um grande homem, foi a ele e pediu um mantra. O guru lhe disse: "Bem, filho, quais são as suas qualidades? Quais são os seus defeitos?" O ladrão disse: "Minhas más qualidades são ir de casa em casa no meio noite, arrombá-las e roubar objetos. Uma vez que eu passo a noite roubando coisas, durante o dia, eu caio no sono. Beber é meu segundo mau hábito. Se a polícia me pegasse, então, para salvar a minha pele, eu inventaria mentiras e diria a eles muitas informações falsas para despistá-los. Essa é a minha terceira má qualidade."

O mestre espiritual perguntou-lhe: "Bem, filho, você diz que rouba, bebe e mente. Você pode desistir de uma destas três más qualidades?" Por um momento, o ladrão pensou consigo: 'se eu não roubar, como eu poderei cuidar de minha família, de minhas crianças e de minha esposa? Não, eu não posso deixar de roubar. Somente quando o corpo está saudável e forte, eu posso escapar quando perseguido. Assim, eu devo dormir bem; e beber me ajuda a dormir durante o dia. Contudo, é improvável que a polícia me pegue tão freqüentemente. Assim, eu deixarei de dizer mentiras.' Então, o grande homem perguntou-lhe: "Você promete que dirá sempre a verdade de amanhã em diante?" O ladrão respondeu: "Certamente. Mesmo a partir de hoje, eu direi somente a verdade." Isto foi o que o ladrão se resolveu firmemente a fazer. E, de fato, daquele dia em diante, dizer a verdade onde quer que fosse ficou sendo um hábito para ele.

Numa noite quente de verão, o ladrão estava fora, numa cidade próxima, espreitando um bom lugar para arrombar. O prefeito dessa cidade, um homem muito rico, estava descansando no terraço de sua casa. Naquela época, não havia ar condicionado, nem mesmo ventilador. Por causa do calor e do ar parado e sufocante da noite, ele não conseguia dormir. O ladrão conseguiu escalar até este terraço. Assim que o ladrão subiu no terraço, o rico homem olhou e percebeu que se tratava de um ladrão. O homem rico o abordou dizendo: "Ei, lá...! Quem é você?" Como o ladrão dizia somente a verdade, ele respondeu: "Eu sou um ladrão." A fim de descobrir quais eram os planos deste homem, o rico falou: "Ah, é...? Bem, eu também sou um ladrão."

Eles decidiram trabalhar juntos e planejaram roubar determinadas coisas de valor que eram mantidas nessa casa. O homem rico disse ao ladrão: "Haverá alguns artigos de valor trancados no cofre dentro da casa deste milionário, mas será muito difícil abrir o cofre; a menos que tenhamos a chave. Deixe-me entrar na casa e ver se eu consigo roubar as chaves." O homem rico continuou: "Eu tenho esperado por alguém que pudesse me dar cobertura. Agora que pude achar um amigo como você, eu vou entrar."

Ele deixou o ladrão e, fingindo arrombar a casa, entrou. Ele atrasou, mas, demorando-se aqui e ali, voltou alguns minutos depois. Então, ele pegou as chaves e saiu furtivamente. Neste momento, ele disse ao ladrão: "Eu tenho as chaves, mas procurei o cofre em toda parte e não pude encontrá-lo. Deixe-me vigiar e você entra. Veja se consegue localizar o cofre e pegar os artigos de valor que o homem rico guarda lá dentro." Enquanto isso ocorria, este homem rico tinha três grandes diamantes dentro do cofre. Este ladrão entrou e logo encontrou o cofre. Ele o abriu e tirou os três valiosos diamantes.

De imediato, surgiu um problema em sua mente. Como dividir os três diamantes entre os dois? Como este ladrão seguia o caminho da verdade, uma certa quantidade de retidão também tinha entrado automaticamente nele. Ele trouxe todos os três diamantes e disse ao homem rico: "Irmão, um diamante fica com você. O outro diamante fica comigo. O terceiro diamante não pode ser quebrado. Eu irei colocá-lo de volta no cofre para o proprietário desta casa. Deixe-o ficar com este." Decidindo assim, o ladrão entrou de novo na casa para colocar de volta um dos três diamantes no cofre. Em seguida, ele retornou ao terraço.

Após fazer esta transação, o ladrão estava para sair quando rico homem disse: "Bem, irmão, talvez nós possamos fazer este tipo de parceria novamente no futuro. Dê-me, por favor, o endereço onde eu posso contatá-lo." Como ele estava limitado a dizer a verdade, o ladrão forneceu seu endereço correto. Na manhã seguinte, este rico homem, que também era o maior servidor público daquela área, pegou o endereço e deu ordens para que uma queixa policial fosse aberta a respeito do desaparecimento de alguns diamantes de seu cofre. Ele disse à polícia para ir a vila citada no endereço e prender o ladrão que lá estivesse.

Nessa vila, em particular, o ladrão era bem conhecido. A polícia foi lá e não teve problema algum para encontrá-lo. Eles o prenderam e o levaram ao prefeito. O ladrão não reconheceu o servidor público roubado a sua frente como sendo o seu sócio na noite anterior. O prefeito, então, questionou o ladrão: "Bem, como você entrou na casa? Como você pegou este diamante?"

O ladrão narrou meticulosamente todos os detalhes de sua aventura. Ele disse como escalou até o telhado, fez parceria com outra pessoa, entrou na casa, abriu o cofre, pegou os três diamantes, deu um a seu sócio, manteve um para si mesmo, e entrou na casa novamente, abriu o cofre outra vez e devolveu um diamante. O prefeito chamou seu principal assistente e disse: "Vá e descubra se há um diamante restante no cofre." O oficial assistente pegou as chaves do cofre. Ele pensou consigo: 'pode haver algum ladrão que ponha um diamante de volta?' Pensando desta maneira, ele abriu o cofre; viu o diamante que havia sido devolvido pelo ladrão; embolsou o mesmo e voltou ao prefeito reportando que não havia diamante algum no cofre. Mas, então, o prefeito procurou nos bolsos do oficial assistente e recuperou o diamante. Imediatamente, ele demitiu o oficial de seu serviço.

Nessa hora, o prefeito dirigiu-se ao ladrão. Ele disse: "Eu sei que, em tudo que me narrou, você disse a verdade. Conseqüentemente, de hoje em diante, eu o designo como meu principal oficial administrativo. Somente uma pessoa que seja verdadeira deve ser um servidor público. Infelizmente, você se tornou um ladrão; mas a sua natureza não é essa." A partir de então, esta pessoa deixou de roubar e se transformou num alto funcionário; ele continuou a prática de dizer a verdade e, automaticamente, com o curso natural dos eventos, ele deixou de beber, de roubar e se tornou um ser humano honesto e correto.

No começo, aderindo à verdade, você pode ser exposto a muitos problemas. Apesar dos problemas que irá encontrar, se você continuar no caminho de dizer somente a verdade; esta natureza sincera irá, conseqüentemente, preenchê-lo de alegria e felicidade e proporcionar sucesso em todos os seus empreendimentos. Portanto, foi para promover a felicidade e o bem-estar da humanidade que Krishna ensinou na Gita que a pessoa deve ser sempre verdadeira. Ele proclamou que a verdade é a estrada régia da vida e que o caminho da verdade é a única maneira de promover a conduta reta na sociedade.

O Dharma É Imutável, Mas A Sua Prática Muda Em Cada Era

Tem-se dito, às vezes, que a retidão diminuiu e que o dharma decresceu. No entanto, isso não é correto. O dharma é baseado na verdade. A verdade é absoluta, jamais pode sofrer mudança ou ser diminuída. Entretanto, numa determinada era, a prática do dharma pode sofrer mudança. Deus encarnou como Krishna não para restabelecer odharma, mas para restabelecer a prática do dharma. O dharma jamais havia ido embora ou sofrido qualquer mudança. O dharma estava fora de uso.

As sete facetas do dharma estiveram presentes em todas as eras passadas. Entretanto, cada idade teve as práticas mais apropriadas ao seu tempo. Por exemplo, em épocas remotas, quando a consciência espiritual era muito elevada, a prática espiritual apropriada era a meditação. Na era em que Rama encarnou, a prática mais apropriada era a penitência e o sacrifício. Na era de Krishna, a prática era a adoração ritualística e cerimonial. E, nos últimos cinco mil anos, nesta atual era materialista em que a consciência espiritual está em baixa no mundo inteiro; o cantar do santo nome é a prática mais adequada. Mas, assim como nas eras anteriores também havia muitos religiosos que praticavam repetição de mantra evocando o nome de Deus; assim, também, nesta era, há pessoas que fazem meditação, penitência e adoração ritualística. Mas, as principais práticas dependem do caráter geral e do ânimo da época.

Diferentes práticas dão diferentes formas, por assim dizer, ao dharma. Mas o fluxo interno do dharma é sempre o mesmo. A verdade nunca mudará. A verdade é sempre uma, nunca duas. Em todos os três períodos de tempo – passado, presente e futuro; em todos os três mundos – terra, paraíso e mundo inferior; em todos os três estados – vigília, sonho e sono profundo; em todas as três qualidades do mundo – passiva, ativa e equilibrada, a verdade é sempre única. Uma vez que a verdade é única e forma a própria base do dharma, o dharma não pode mudar. O dharma jamais oscila ou se submete a quaisquer modificações. No entanto, o dever e a prática irão sofrer mudança intermitente.

Por exemplo, considere uma pessoa que esteja desempenhando uma profissão. Por quanto tempo este trabalho será o dever dessa pessoa? Até que ela se aposente desse determinado trabalho. Até então, ela vai ao escritório todos os dias. Uma vez que se aposente, os deveres dela mudam. Após a aposentadoria, essa pessoa pode se envolver em fazer negócios. Nessa hora, ela diz que prosseguir o seu negócio é seu dever. Fazendo negócios, ela pode ser tentada a ganhar algum lucro extra usando métodos desleais; a pessoa pode tentar ganhar dinheiro através da mentira e da trapaça. Apesar de, agora, ela ter adotado a mentira e a trapaça para ganhar dinheiro; a pessoa irá considerar o trabalho que está fazendo como sua ocupação e seu dever. Quando tantas mudanças podem ocorrer no desempenho do dever, como pode este ser descrito como dharma? Estas atividades mutáveis que ocupam o seu tempo no interesse de prover suas necessidades de vida, não podem, automaticamente, ser descritas comodharma. O dever se transforma em dharma ao brilhar com as virtudes que compõem as facetas do dharma.

Não Ferir os Outros É Dharma

Há um significado simples para a palavra dharma. Todas aquelas ações que não se tornam um obstáculo no caminho dos outros, que não restringem a liberdade de outras pessoas, podem ser descritas como dharma. Eis aqui um pequeno exemplo disto.

Você está segurando e brincando com uma longa vara, movendo-a para lá e para cá; ao mesmo tempo, você está descendo uma rua principal. Esta rua é uma via pública movimentada. Você pode sentir: "Eu tenho o direito de me movimentar onde quer que eu deseje." Bem, se este é seu direito, então, a pessoa que está vindo no sentido oposto tem todo o direito de se salvar da pancada de sua vara. Você está se engajando numa atividade que, provavelmente, colocará em perigo uma outra pessoa que esteja andando na rua. Entretanto, a conduta correta espera que você aja de modo a não interferir com a liberdade de outras pessoas que andam na mesma rua.

Se você pode conduzir-se de uma maneira que não seja prejudicial a outras pessoas ou que não lhes restrinja a liberdade, então você está se comportando de acordo com odharma. Mais tarde, nós iremos considerar os ensinamentos de Krishna nos quais Ele indica que apenas evitar fazer mal aos outros não é o bastante. Você também deve ser amigável e compassivo com todos os seres. Contudo, se todos considerassem como seu dever conduzir-se sem causar dano algum a outras pessoas, o mínimo que fosse; então, haveria paz, prosperidade e alegria em abundância no mundo. Agir desta maneira é seu verdadeiro dever, um dever que deve ser executado a fim de dar um exemplo aos demais e para sustentar os ideais essenciais do dharma.

Dever Social, Dever Compulsório e Dever Familiar

Em sua vida diária, na comunidade, há três tipos de deveres que podem ser considerados três aspectos do dharma. Há o dever social, o dever compulsório e o dever familiar. Estes deveres se expressam de maneiras diferentes. Primeiro, considere um exemplo de dever social. Suponha que amanhã é domingo, um dia de folga para você. Você pode ter a vontade de convidar algumas pessoas para um chá em sua casa. De repente, à noite, você fica com febre. Enquanto estiver doente, você percebe que não seria capaz de receber seus amigos adequadamente se fosse convidá-los para visitar você no dia seguinte; pois, assim, nem você nem eles ficariam alegres. Portanto, considerando a sua obrigação em relação a seus amigos, as quais você não poderia desempenhar doente, você decide adiar o chá. Baseado na mudança das circunstâncias e em sua consideração por seus amigos, você muda o chá para o domingo seguinte. Você é livre para conciliar ambos, os seus desejos e as suas obrigações sociais.

Em seguida, considere um exemplo de dever compulsório. Vamos supor que você seja um professor na universidade. Em relação às provas vindouras, o chefe do departamento determinou que toda a equipe de professores desse departamento se reunisse para uma assembléia. Sendo esta uma reunião importante do departamento, você terá que comparecer. Mesmo que esteja com febre, você toma algumas aspirinas e vai à reunião. Este é um dever compulsório e você não tem qualquer direito de cancelá-lo. A programação desta reunião não estava em suas mãos e, uma vez que está assembléia foi convocada, espera-se que você compareça.

Agora, considere um exemplo do dever familiar. Você está em sua própria casa. Há uma pequena briga familiar entre o marido e a esposa. Dentro do quarto, o marido e a esposa estão tendo uma discussão. Ela está muito irritada. De repente, a campainha toca e ele vai atender. Ele encontra um colega de trabalho que passou para uma visita ocasional. Ao ver o visitante, o marido o recebe com um sorriso e um afetuoso cumprimento. Ele pede que a visita se sente; com a visita, ele é muito cordial. Ao entrar no quarto para falar da visita a sua esposa e perceber que ela ainda está muito irritada, ele pode reassumir seu tom ríspido. Mas, assim que for ao outro aposento para encontrar o colega que chegou, ele continua sua conversação amigável. O dever dele é proteger o bom nome da família se conduzindo de forma que uma pessoa de fora não saiba que ele discutiu com a esposa.

Se uma pessoa que esteja irritada com a sua esposa dentro do quarto vier para a sala e pedir irritadamente que o visitante vá embora, então o convidado ficará horrorizado. É importante cuidar para que os segredos e as confidencialidades da família não sejam jogados na rua. Este é um importante dever de um homem de família. Ele deve ser sempre vigilante para proteger a honra de sua família. Caso, por sua indiscrição, a honra da família seja destruída; então não haverá felicidade alguma para ele ou sua família durante o resto de suas vidas.

O Controle dos Sentidos É a Chave Para Cumprir Seu Dever Adequadamente

A fim de proteger o bom nome de sua família, você deve permanecer alerta e ciente da necessidade das outras pessoas; isto requer controle dos sentidos. Sem possuir o controle dos sentidos, como foi explicado numa palestra anterior, você se torna arrogante. Alguém que seja arrogante e destituído do controle dos sentidos nada mais é do que um demônio. Se deseja praticar e proteger o dharma, você deve desenvolver o controle dos sentidos. Para tudo de valor na vida, o controle dos sentidos é muito importante. Krishna disse a Arjuna: "Arjuna, seja um homem sábio e tenha completo controle sobre os seus sentidos. Não obedeça aos caprichos volúveis de seus sentidos. Os sentidos devem estar sob seu controle. Você não deve se transformar num escravo de seus sentidos. Faça destes seus escravos. Seja o dominador. Somente ao dominar os sentidos, você terá obtido o direito de estar perto daquele que é o criador de todos os sentidos e que possui completo domínio sobre estes."

No segundo capítulo da Gita, todas as qualidades de um homem sábio foram explicadas. De todas estas qualidades, o controle dos sentidos é uma das mais importantes. Neste capítulo, nós tivemos explorando alguns aspectos diferentes de dharma, que, como os raios do Sol, pode ser analisado como tendo sete cores ou facetas. Como foi indicado no começo, esta luz solar do dharma contém o raio da verdade, do bom caráter, do comportamento correto, do controle dos sentidos, da penitência, da renúncia e da não-violência. Você deve tornar todas estas características suas próprias.

Tente compreender o significado destes ensinamentos da Gita e praticá-los em sua vida diária. Ao ter tanto interesse em estudar estes ensinamentos, é o desejo de Swami que você também deva demonstrar o mesmo grau de interesse em praticar o significado destas instruções e, assim, adquirir todas as boas qualidades que por estas são conferidas.

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