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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O livro do Caminho - 31º Capítulo: Cumpra Seu Dever, mas sem Interesse pelos Resultados

Krishna disse: "Arjuna, você tem um trabalho a fazer. Faça-o! Mas desista de qualquer interesse pelo fruto de seu trabalho." Krishna não disse que não haveria fruto. O fruto certamente estará lá. Cada ação tem a sua conseqüência ou fruto. Mas o fruto não é interesse seu, você não deve ansiar por este. Portanto, a essência do ensinamento de Krishna é que você deve cumprir seu dever, mas sem manter o resultado em mente.

Encarnações do Amor,

Para cada ação há um resultado e, subseqüentemente, este resultado causa uma outra ação. Este ciclo contínuo de ação e resultado, resultado e ação, manifesta-se de maneira semelhante ao ciclo da semente e da árvore. A semente e a árvore também surgem um após o outro, com a semente fazendo surgir a árvore e a árvore fazendo surgir a semente. Sem uma semente, você não pode ter uma árvore e, sem uma árvore, você não pode ter uma semente. A mesma coisa é válida para uma ação e o seu resultado. Estes são ciclos naturais do mundo. Quando isto ocorre assim, com um sempre vindo após o outro; por que você deveria ter um interesse especial pelo resultado? Seu dever e responsabilidade é executar a ação correta. Não tenha interesse pelo resultado. Krishna disse a Arjuna: "Nesta batalha, você deve ser indiferente ao que acontece a seu povo ou a você. Cumpra seu dever sem deixar a sua mente fixa ao resultado."

O Escudo da Devoção e a Armadura da Sabedoria

Na batalha, os guerreiros usam escudos e armaduras. Isto lhes dá alguma proteção contra as poderosas armas disparadas pelos inimigos. Na batalha espiritual em que deve se engajar, você também tem que usar uma espécie de escudo e um tipo de armadura. Aqui, o escudo é a devoção e o amor por Deus; e a armadura é a sabedoria. Numa guerra comum, relativa ao mundo, a luta pode durar apenas alguns dias ou pode se arrastar por alguns meses ou mesmo anos. Mas a batalha espiritual ocorre continuamente, nunca termina. Esta batalha tem sido travada pela humanidade incessantemente desde os tempos antigos. Desde tempos imemoriais, tem ocorrido a luta entre o bem e o mal, entre a virtude e o pecado, entre o apego e o desapego.

A humanidade tem travado uma guerra sem fim contra os seus sentimentos de ego e de possessividade, contra os seus sentimentos de ódio e de ciúme, e contra outras más qualidades que nela se abrigaram. Em particular, o egoísmo e o apego têm uma força extraordinária. Eles são realmente terríveis. Comparado a eles, você – o indivíduo que os está combatendo – não é assim tão forte. Na verdade, você é bem fraco. De fato, você ficou tão dominado por estas qualidades negativas que, como Arjuna, se identificou com elas. Agora, para combater estas qualidades inimigas tão poderosas; você deve seguir as diretrizes do Senhor que reside em seu interior e usar um escudo e uma armadura bastante resistentes. O poderoso escudo e a forte armadura que você deve usar nesta batalha espiritual são a devoção e a sabedoria. Elas irão protegê-lo contra estes pavorosos inimigos.

Ao possuir um guarda-sol para protegê-lo, você não será incomodado pelo sol quente. Ao usar sandálias ou sapatos, você não ficará preocupado com a possibilidade de pisar num espinho. Ao usar um escudo e uma armadura, você não será tão incomodado pelos armamentos atirados contra você. "Portanto, Arjuna," disse Krishna, "nesta batalha interna, você deve vestir a sua armadura e usar o seu escudo espiritual." Quando Krishna ergueu Arjuna de seu desalento, no começo da Gita, Ele deu a Arjuna a armadura da sabedoria. Esse foi o primeiro ensinamento que Krishna ofereceu.

Use a Sabedoria para Conquistar seus Inimigos Internos

Krishna disse a Arjuna: "Todos estes apegos que você tem agora, todos estes desejos de possuir coisas, não são tendências que você adquiriu ontem ou anteontem. Estas tendências têm estado com você durante numerosos nascimentos e são as responsáveis por toda a dor que você está experimentando. Você não tem uma maneira de saber quando será capaz de, finalmente, se livrar da dor que elas causaram. Mas você não pode fazer muito em relação ao passado; assim, não se preocupe com ele. Ao invés disso, concentre-se nos meios de eliminar a dor que viria a você no futuro se estes apegos e desejos continuassem controlando você.

"Na batalha que está prestes a lutar, você se muniu com uma armadura do mundo material; isso irá ajuda-lo a proteger seu corpo dos inimigos externos. Mas como você poderá se proteger dos inimigos internos com os quais você está guerreando em seu interior? Para se proteger deles, você deve usar a armadura da sabedoria. Você está preocupado com os seus inimigos externos, mas não está pensando sobre os inimigos internos de modo algum. Se sucumbir a seus inimigos internos, você jamais poderá conquistar seus inimigos externos. Portanto, primeiro, conquiste estes inimigos internos."

É natural procurar um médico quando você está doente e sofrendo; mas, em primeiro lugar, é mais importante cuidar para que você não contraia qualquer doença. Diz-se que um grama de prevenção vale mais que um quilo de medicação. Desde as épocas mais remotas, os inimigos internos têm subjugado a humanidade e preenchido os seres humanos de pesar. Enquanto estiver cheio de egoísmo e apego, você não será capaz de se livrar da tristeza e do pesar. Você tem se engajado em ações erradas e estas têm sido as responsáveis por toda a sua dor. Isto significa que você deve se abster da ação? Não. Você não tem escolha além de agir. Você deve agir. E você também é livre para desfrutar suas ações. Mas, de agora em diante, você deve executar todas as ações corretamente, de uma maneira que não lhe proporcione conseqüências prejudiciais e dor no futuro. Estando de acordo com isto, é muito importante que você compreenda os princípios básicos da ação correta.

Toda Experiência no Mundo Pode Ser Associada ao Karma

Ação se chama karma. Você nasce no karma, se desenvolve no karma e morre no karma. O karma – ou as ações que você executa – é o responsável por todo bem ou mal, pecado ou virtude, lucro ou perda, alegria ou tristeza. Na verdade, o karma é responsável por seu próprio nascimento. O karma é, de fato, um criador para a humanidade. Ele molda a sua vida. Conseqüentemente, você não deve considerar a ação com negligência. Toda a sua vida está associada à ação. Portanto, reconheça a importância da ação correta e se engaje nesta resolutamente.

Não pense que a ação é apenas algo insignificante. A ação pode começar como uma pequena árvore, mas esta irá se transformar numa grande árvore. Antes que a semente possa se transformar numa árvore, ela deve romper o solo em que foi semeada. Então, uma vez que se transforme numa grande árvore, esta irá lhe oferecer seus frutos. Se este fruto lhe traz alegria ou tristeza, isto depende da semente que você plantou. Para obter o mais excelente dos frutos, a semente da ação que você executou deve ser da mais elevada qualidade e deve romper o solo do egoísmo. Então, esta ação pode ser transformada em yoga. Yoga é união com Deus.

O Egoísmo Se Desenvolve Quando Você Esquece o Morador Interno

Qual é a principal causa do egoísmo? Por que você deve sempre se sentir egoísta? O egoísmo surge devido à ignorância que está em você. Você deve refletir consigo: ‘Onde nasce o egoísmo? De onde ele surgiu e onde ele vai terminar?’ Considere estes fatos do universo físico: A luz viaja na taxa de 670 milhões milhas por hora. Nesta taxa, a luz viaja um trilhão de milhas por ano. Nós consideramos que o Sol está muito próximo. A distância entre a Terra e o Sol é de aproximadamente 90 milhões de milhas. Para nós, o esplendor da luz que vem do Sol é excepcionalmente radiante. Mas esta é a luz de apenas um sol. Há bilhões de sóis e estrelas. A distância ao mais próximo destes é de quase 4 anos luz, ou algo entre 23 e 24 trilhões de milhas.

As estrelas parecem estar muito perto umas das outras, mas a distância entre duas estrelas quaisquer é de dezenas de trilhões de milhas. Elas parecem com leite espalhado por todo o céu. As estrelas que você pode ver com um potente telescópio contam bilhões. E há muito, muito mais objetos nos céus que você não pode ver. Qual é o tamanho da Terra no contexto de um universo tão vasto, onde há bilhões e mais bilhões de estrelas espalhadas em distâncias de trilhões e mais trilhões de milhas? E qual é o lugar deste pequeno planeta Terra em relação ao imenso Sol, que, não obstante, é apenas uma pequena estrela entre as incontáveis que salpicam os céus?

Nesta Terra, qual é o tamanho do país do qual você é um cidadão? Qual é o tamanho do estado em que você vive? Dentro deste, quão pequeno é o distrito em que você está agora? E quão menor é a pequena cidade que você considera seu lar? E, por conseguinte, quão menor ainda é você neste minúsculo pedaço de terra que ocupa na cidade? Se tal é a extensão do universo e tal é o seu tamanho dentro dele, por que você está tão cheio de sentimentos egoístas? Se tivesse verdadeira noção da vastidão do mundo, você não teria egoísmo algum. Somente ao ignorar a grandeza do universo em relação a seu minúsculo tamanho, você pode ter uma noção tão ridícula.

Talvez você esteja orgulhoso de seu próprio corpo. Mas o corpo é constituído apenas pelos cinco elementos. Um dia ou outro, ele vai perecer. Somente o morador interno é permanente. Ele não possui nascimento ou morte. Ele não se desenvolve nem deteriora. Ele brilha em toda parte. No mundo inteiro, trata-se da única entidade permanente que resplandece como um ser radiante num mar de formas mutantes. Ele está por trás de cada forma, trata-se do esplendor que anima cada aspecto no vasto universo. Mesmo na escuridão total, Ele está lá; pois Ele é aquele que lhe revela a escuridão. Este esplendor que a tudo permeia é o morador interno, a eterna chama brilhante dentro deste corpo inerte. Olhe para este morador interno, volta-se para Ele e você não será iludido pelo orgulho nem pelo egoísmo.

O Corpo É Algo Inerte Composto pelos Cinco Elementos

Abrigue-se no Senhor que está em seu interior. Não mantenha a visão voltada para o corpo sentindo-se orgulhoso. O corpo está sujeito a muitas doenças e sofre muitas mudanças. Ele mal pode viajar neste oceano da existência mundana e sobreviver. O corpo é apenas algo inerte; ele não é mais do que sete baldes d’água, o ferro de quatro pregos de duas polegadas, o fósforo de 1.100 palitos de fósforo, o carbono contido em quatro lápis e duas barras de sabão. Ao colocar todas estas coisas juntas, com algumas outras substâncias variadas, tudo isto se transforma num corpo. Assim, o corpo consiste apenas de matéria inerte. Mas ele pode se mover e exibir vida por haver um morador dentro.

Considere o relógio de parede pendurado lá. Ele possui três ponteiros: o ponteiro dos segundos, o ponteiro dos minutos e o ponteiro das horas. Ao dar corda no relógio, todos os três ponteiros começam se movimentar em suas próprias taxas de rotação prescritas. Quanto tempo eles irão se manter assim? Eles irão se movimentar enquanto houver energia na mola que os energiza. No momento em que a energia se esgota, eles param onde quer que estejam. O seu corpo pode ser comparado a um relógio. A sua respiração pode ser comparada à mola. As suas ações podem ser comparadas ao ponteiro dos segundos. Os seus sentimentos podem ser comparados ao ponteiro dos minutos. A sua alegria pode ser comparada ao ponteiro das horas. A energia divina interna energiza e vitaliza tudo isto.

No caso deste exemplo do relógio, você pode responder à pergunta a respeito do motivo de executar ações. Você percebe que o ponteiro dos segundos, que representa as suas ações, se movimenta rapidamente e logo percorre uma volta inteira de 60 segundos. A essa altura, o ponteiro dos minutos, que representa os seus sentimentos, terá avançado a sexagésima parte de uma volta. Somente quando o ponteiro dos segundos deu sessenta voltas completas, com sessenta segundos cada uma, e o ponteiro dos minutos deu uma volta; o ponteiro das horas, que representa uma experiência de alegria e bem-aventurança divina, irá se movimentar numa divisão do relógio. O ponteiro das horas se movimenta tão lentamente que você não pode nem mesmo detectar o seu movimento, embora possa perceber o movimento dos ponteiros dos minutos e dos segundos.

Há um segredo interno neste exemplo. Uma vez a cada hora, todos os três ponteiros se encontram. Quando a ação, que está associada ao corpo e à natureza; o sentimento, que está associado ao homem interno; e a eterna alegria que está associada à divindade se encontram, então você tem o encontro entre a natureza humana e a natureza divina.

Da Ação Sagrada aos Sentimentos Devocionais e Bem-aventurança

A natureza foi descrita como o campo da ação. A natureza lhe dá a oportunidade de santificar o seu trabalho e de alcançar o seu objetivo. Ao executar 60 boas ações, um bom sentimento surgirá. Portanto, para obter um bom sentimento, você deve executar muitas boas ações. E haverá um pequeno movimento do ponteiro das horas, que representa a inefável experiência da alegria divina, somente quando você tiver obtido sessenta destes bons sentimentos. Por essa razão, Krishna disse para Arjuna executar boas ações. Ao fazer incontáveis boas ações, você provavelmente obterá um ou dois bons sentimentos profundamente satisfatórios e duradouros. Somente ao desenvolver inumeráveis bons sentimentos como estes, você poderá alcançar a alegria que é o eterno estado do atma. Assim, você deve começar executando muitas ações benéficas.

O corpo lhe foi dado com a finalidade específica de executar ações. É impossível passar, mesmo um único momento, sem estar ativo. É por isso que, nos Vedas, as sagradas escrituras da Índia, se dá tanta importância ao desempenho de atividades sagradas, que incluem cerimônias e rituais de adoração. Contudo, ações sagradas não se referem apenas às ações de executar sacrifícios, fazer penitência e caridade; cada uma causando um resultado esperado. Há muitas ações que você pode empreender das quais você não iria esperar fruto algum. Tais ações, que são executadas sem qualquer interesse pelo resultado, podem ser denominadas karma yoga.

Quando uma ação é executada sem desejo e sem qualquer sentimento de egoísmo, então, trata-se de karma yoga. Essa é a forma mais elevada de ação, a mais sagrada de todas, e aquela que você deve seguir a cada passo da vida. Remova o seu egoísmo. Mande-o para longe. Remova o seu desejo pelo resultado. Quando você executar a ação com esta atitude, ela irá se transformar em trabalho com o verdadeiro espírito de sacrifício; ela irá se tornar penitência e yoga. Sacrifício, penitência e yoga, todos os três transmitem a mesma idéia. Cada ação que você executa deve ser santificada desta forma. Até mesmo inalar e exalar são ações. Estas atividades também são karma. Sem executar karma, o homem não pode viver no mundo nem mesmo por um momento. Mas o karma associado ao ego será sempre mesquinho e prejudicial.

O Alimento faz Surgir Pensamentos, Sentimentos e Ações

Portanto, execute todas as ações somente com o sentimento de sacrifício em seu coração, não com um sentimento egoísta de servir a si mesmo. Os resultados serão bons ou maus, benéficos ou prejudiciais dependendo do tipo de ações que você executa. As ações, em si, dependem dos sentimentos de abnegação ou egoísmo que você possui. Os sentimentos, por sua vez, dependem dos pensamentos que você abriga. E os pensamentos dependem do alimento que você consome. Por conseguinte, você tem a seqüência: os alimentos levando aos pensamentos; os pensamentos levando aos sentimentos; os sentimentos levando às ações; e as ações levando aos resultados. Estes resultados, por sua vez, induzem mais sentimentos, alguns de dor outros de alegria, dependendo da natureza das ações, sentimentos, pensamentos e da alimentação. Deste modo, você vê a grande importância de sempre ingerir alimentação muito pura e saudável.

Suponha que um sábio executando um ritual védico faz um pequeno fogo, como é prescrito pelas escrituras. A fumaça que sai dependerá do tipo de fogo que foi feito. Uma nuvem irá se formar como conseqüência da fumaça que subiu. O vapor de água condensa devido à nuvem e há gotas de chuva. A colheita, embaixo, depende da chuva; e, assim, o alimento consumido depende da colheita. Finalmente, o corpo físico, sendo idêntico à alimentação, depende do alimento que é ingerido. Portanto, até mesmo o alimento pode ser reconhecido em função do tipo de ação; neste caso, o fogo que foi feito e o sacrifício executado.

Focalize a Ação, Não o Resultado

Se suas ações forem boas, então seu nascimento será bom. Suas ações são a causa original, seu nascimento é o resultado final. Neste contexto, Krishna disse: "Mantenha toda a sua atenção na execução de boas ações; não preste qualquer atenção ao fruto." O fruto seguirá por si, mas seu foco deve estar na ação.

Você está associado a inúmeras boas ou más ações do passado e, como conseqüência, está desfrutando ou sofrendo seus resultados na forma de alegria ou tristeza agora. Como se livrar da tristeza que é o resultado de suas más ações do passado? Você pode remover esta tristeza somente se engajando em boas ações. Essa é a razão pela qual se dá principal importância à ação nos Vedas. As ações más devem ser substituídas pelas boas; as quais, em seguida, conduzem a ações totalmente abnegadas onde não há qualquer interesse pessoal pelo resultado. Este processo, então, se transforma em karma yoga e une você à divindade.

Se você for descuidado em suas ações ou desperdiçá-las, sua vida inteira se torna um desperdício. A vida lhe foi dada para que você se engaje em bom karma e em atividades ideais. Karma não significa apenas executar ações com o corpo. O próprio nome do corpo é karma. Uma vez que o corpo surgiu como resultado das ações executadas previamente, um dos significados de karma é corpo.

O corpo é a conseqüência de ações. Ele está associado ao tempo, à circunstância e ao princípio da causalidade. Mas isto se aplica somente ao estado de vigília. No estado de sonhos, o corpo está inativo. Assim, não pode haver ação alguma; haverá apenas a ilusão da ação, ou maya. Nos sonhos, todos os sentidos estarão inativos. No estado de sono profundo, que foi chamado estado causal, não haverá mente alguma. Além deste estado, está a causa última, aquela que é chamada a grande causa, a causa original. Ela transcende o estado causal. Esta causa original é a divindade. Aqui está um pequeno exemplo para ilustrar estes estados.

Aqueles de vocês que são estudantes vêm para cá do alojamento, que fica a aproximadamente um quilômetro de distância. As 4:15 da tarde, vocês deixam o alojamento e por volta das 4:30 alcançam os portões do ashram. Assim, vocês levam aproximadamente 15 minutos para mover o corpo do alojamento a este complexo. A finalidade de virem aqui é ouvir a palestra de Baba. Em cada ação que executam, haverá estes mesmos quatro fatores: um tempo, uma ação, um motivo ou finalidade, e um resultado. O tempo, como você percebeu, foi 15 minutos. A atividade foi andar do alojamento ao salão de orações. O motivo era escutar a palestra. O resultado é que, assim, você estará santificando a sua vida. Desta forma, o estado de vigília pode ser usado para o avanço espiritual do indivíduo.

Tempo, Ação, Motivo e o Resultado se Aplicam Apenas ao Corpo

Agora, considere que, mais adiante, depois de terminado este discurso, você retorna ao alojamento. Depois de jantar, você relaxa em sua cama e vai dormir. Você tem um sonho. No sonho, você se encontra passeando num bulevar em Paris. Quando você deixou o alojamento para ir a Paris? E quanto tempo você levou para chegar lá? Essas perguntas não podem ser respondidas. Não há um tempo específico envolvido neste caso. Como você viajou até lá? Por navio ou por avião? Isso também não pode ser respondido. Não há uma atividade específica envolvendo a sua chegada lá. Por que você foi a Paris? Você não sabe, não há uma razão aparente para você estar lá. O que você aproveitou por lá? Qual é o resultado de sua ida? Nem mesmo isso você pode responder. Não há um resultado específico resultante de sua ação que se possa discernir lá. Assim, no estado de sonho, não há um tempo, nem uma ação, nem um propósito, nem usufruto dos resultados; nada disso está lá.

Agora, suponha que logo depois que você dormiu, alguém veio acordá-lo. Você se levantou e percebeu que tinha estado adormecido por cinco minutos apenas. Durante esses cinco minutos, você teve seu sonho e foi a Paris. Como isso é possível? Isso não é possível. Tratou-se apenas de uma experiência mental. Você não executou esta ação com seu corpo ou com seus sentidos. Essa experiência mental está associada a sua forma sutil. No entanto, é o corpo denso que possui estes quatro fatores: tempo, ação, motivo e circunstância resultante. Você viu que nenhum destes fatores ocorre na experiência sutil ou mental associada ao estado de sonho. Somente por causa dos truques da mente, você foi capaz de criar um mundo novo lá.

A mente criou tantas pessoas, tanto tráfego, tantos objetos naquele movimentado bulevar em Paris. A mente tem este poder excepcional. Ela tem uma capacidade extraordinária para criar ou destruir qualquer coisa, não somente nos sonhos, mas também no estado de vigília. Por todas as suas ações, os pensamentos em sua mente são os responsáveis. Ao oferecer uma mente tão poderosa ao Senhor, então, não apenas a mente, mas todas as suas ações, tudo o que você faz, terá sido oferecido a Ele. Quando você usa a sua mente para pensar no Senhor, todas as suas ações se tornam sagradas.

Volte o Desejo em Direção a Sabedoria para Obter a Luz Divina

Um grande sábio costumava dizer: "Se você cantar hinos de louvor ao Senhor e oferecer-Lhe uma luz; então, o mundo inteiro resplandecerá com o fulgor dessa luz." Em sua adoração, você pega uma lamparina flamejante e oferece essa luz ao Senhor. Sua mente, que é composta por muitos desejos, pode ser comparada ao óleo; o pavio pode ser comparado à sagrada sabedoria que você acumulou. Após unir estes dois, usando sua sabedoria para voltar seus desejos em direção a Deus, você começa a obter o brilho da luz divina que emana da união de ambos.

Para este óleo e este pavio, deve haver algum recipiente. O corpo pode ser imaginado como o recipiente que armazena este óleo que são os desejos e o pavio que é a sabedoria. A alegria bem-aventurada que você sente é o brilho da luz que surge desta lâmpada sagrada. Se houver apenas o pavio e você tentar acendê-lo, este não queimará. Ou, se quiser acender o próprio óleo, você não poderá fazê-lo. Mas quando o pavio está associado ao óleo, então, este será capaz de queimar e você terá a luz.

Há uma outra maneira de ver este óleo e este pavio: pense na ação ou trabalho, o qual está associado à mente e seus desejos, como sendo o óleo; o buddhi, ou intelecto intuitivo, que está associado à sabedoria, pode ser imaginado como sendo o pavio. Ao combinar estes dois, a saber, a ação e o buddhi; ou seja, ao tornar todas as suas ações sagradas, seguindo as ordens de seu motivador interno superior, então a luz resplandecerá. Esta luz é a eterna luz do atma. Quando todas as suas ações se tornam sagradas, você terá a consciência de sua verdade eterna; você irá se aquecer na luz do único ser imortal.

Agora, a chama da lâmpada possui algumas características individuais. Quando há uma brisa, a chama ira tremular. Quando respingar água, ela irá estalar, fazendo um barulho. Se houver algumas impurezas no óleo, a chama soltará fumaça. Ela também libera calor; se você tocá-la, irá se queimar. E, dependendo do tipo de óleo e do fluxo de ar, haverá cores diferentes para luz que emerge da chama. Estas várias características pertencem à chama, mas não estão associadas ao brilho que surge da luz dessa chama.

Há somente uma característica para esse brilho; isto é, ele envolve tudo que toca no esplendor de seu fulgor. A chama tem vários atributos diferentes, mas o brilho do atmatem apenas o único atributo de iluminar e remover a escuridão. Essa luz interna e imortal do atma é dada a todas as pessoas indistintamente. Essa é a característica desta chama que a todos se aplica. Mas, na chama da vida, haverá muitas características individuais. Muitas mudanças e problemas entrarão nela.

Os Três Tipos de Ações

Há três tipos de atividades surgindo de diferentes aspectos desta chama da vida. Há as ações comuns que conduzem a resultados comuns e que, por sua vez, conduzem a mais ações num ciclo infinito. Esta chama é como aquela que queima rígida num momento e dá estalidos no seguinte, ou queima em vários matizes e em várias temperaturas.

Em seguida, há as boas ações – aquelas que sempre trazem bons resultados. Estas boas ações são como uma chama invariável que está sempre imóvel. Este segundo tipo de atividade se refere a executar seus deveres mundanos de uma maneira correta, sendo ativo nas boas causas, se engajando em práticas devocionais, etc. Todas estas são boas ações; mas, junto, haverá ainda um claro interesse pelos resultados. Os Vedas declararam que mesmo as melhores e mais benéficas ações executadas com interesse pelos resultados podem levá-lo apenas até o paraíso. Você não deve ter a impressão de que o paraíso o dota com a imortalidade; quando os méritos das ações se esgotam, você tem que descer à Terra novamente. Assim, este segundo tipo de ação, também perpetua o ciclo de nascimento e morte.

Por último, há as ações que não estão relacionadas aos atributos da chama. Este terceiro tipo de atividade está associado ao puro brilho, o resplendor da luz átmica. Para tais ações, o interesse pelo resultado não é relevante de forma alguma. Tais ações emergem de sua natureza interna, sua verdade mais profunda, que é divina. Você executa todas as suas ações como uma oferenda à divindade, sabendo que a única divindade está em todos. Tais atos sagrados podem ser chamados de yoga; pois, neste caso, você está engajado em karma yoga. Isto é pureza na ação, onde não há apego algum ao resultado.

Perceba que, quando você está interessado nos resultados, estes logo se esgotam e novas ações têm que ser executadas repetidas vezes, num ciclo infinito. Pegue, por exemplo, um candidato à assembléia legislativa que concorre na eleição. Se conseguir vitória na votação, ele pode ir à assembléia por cinco anos. Enquanto o tempo passa, seu período de cargo público se esgota e, no fim de cinco anos, ele tem que voltar para casa. Do mesmo modo, todos os méritos que você obtêm com suas atividades podem ser comparados a este tipo de mandato limitado que dura por alguns anos. No fim do período, você tem que tornar a nascer outra vez.

Enquanto seus méritos duram, você desfruta o paraíso; mas, assim que estes se esgotam, você deve descer outra vez para nascer. Portanto, ao descrever a doutrina dokarma a Arjuna, Krishna disse: "Ao invés de aspirar ao resultado temporário de uma ação, fato que o mantém preso ao ciclo do nascimento e morte, aspire a realizar a divindade suprema que é o seu próprio ser real. Ao saber que a única divindade é o ser imortal de tudo e ao agir com esse conhecimento, em seguida, suas ações estarão alinhadas com a vontade divina e serão sagradas. Então, você jamais terá que voltar a nascer de novo. Mas se, ao invés disso, suas ações são motivadas pelos resultados que, por sua vez, o conduzem a uma vida após a outra e você fica perpetuamente indo e vindo; então, como você poderá alcançar seu objetivo permanente?" Há uma pequena história para ilustrar isto.

Aspire pelo Supremo e Jamais Volte

Um ladrão inveterado foi pego no ato do roubo e posto na prisão. Foi decretado, na corte, que ele deveria ficar preso por seis meses. O período de seis meses logo passou e chegou o dia em que ele deveria ser libertado. O carcereiro veio e disse ao ladrão: "Bem, amanhã à noite, seu tempo terá sido completado e você terá cumprido a sua pena. Pode fazer seus preparativos para ir embora. Pegue todos os seus objetos pessoais e esteja pronto para sair." O ladrão não estava muito feliz por ouvir isto, mas também não estava infeliz. Ele estava apenas indiferente, pois sabia o que iria acontecer. Ele disse: "Deixe os artigos ficarem aqui."

O carcereiro perguntou: "Por que você não quer levar estas coisas com você?" O ladrão respondeu: "Não há motivo para eu levar estes objetos comigo. Em um ou dois dias, eu estarei de volta. Mais breve do se imagina, você irá me ver neste mesmo cárcere novamente. Uma vez que será por poucos dias, porque eu iria me incomodar com esses objetos?" Assim, este ladrão sabia que iria se engajar em roubo novamente, que iria ser apanhado e punido outra vez e, indubitavelmente, iria cair novamente na mesma prisão.

Da mesma maneira, suas ações podem ser comparadas a este "vem e vai" do ladrão. Você executa ações em sua vida aqui na Terra. Com o tempo, você é motivado a tornar todas as suas ações boas, produzindo bons resultados. Posteriormente, você vai ao paraíso. Quando seu tempo por lá expirar, você volta outra vez à Terra. Krishna disse: "Este processo de subir e descer não é bom." Nessa hora, Krishna deu a Arjuna os sagrados ensinamentos. Ele mandou Arjuna buscar o lugar da eterna verdade e residir lá. Uma vez estabelecido neste lugar permanente, residindo em seu ser imortal, as ações não podem mais atá-lo. Então, jamais haverá necessidade de voltar novamente; pois você estará estabelecido na permanente bem-aventurança do atma. Comparadas a este estado sublime, as alegrias da Terra e do paraíso são como meros átomos no universo infinito.

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